Memphis, a vitória de uma ideia simples

António Santos

Há um ano, os trabalhadores da cadeia de cafés Starbucks em Bufalo, no Estado de Nova Iorque, decidiram formar um sindicato — o primeiro — e por isso, tal como todas as coisas que chegam primeiro, o único. As reivindicações desses baristas eram simples. Não havia nem vestígio de radical nem sinal de original, só melhores salários, quase tudo e mais direitos que tais.

Não é para menos: a Starbucks, afinal de contas, é a empresa privada nos EUA com o maior número de queixas no Painel Nacional das Relações Laborais (NLRB), o organismo com a pretensão moderar as relações entre trabalho e capital. Só no ano passado foram mais de 600 as denúncias apresentadas no NLRB por violação das leis laborais. «A nossa ideia era mesmo muito simples: queríamos ter uma palavra a dizer sobre este sítio onde passamos nove horas por dia», disse-me Hetlard Jones, fundador desse sindicato local e dirigente da coligação Starbucks Workers United.

O que Hetlard não conhecia era a força dessa ideia simples. Como uma vaga, carregada de energia, a inspiração sindical espalhou-se por toda a cadeia de cafés. Menos de um ano depois, trabalhadores em outros 220 Starbucks tinham votado a favor da constituição de sindicatos.

«Ligavam-me colegas que eu não conhecia a toda a hora», explicou-me Hetlard, «da Califórnia, da Flórida, do Texas… tinham ouvido falar de um sítio onde os baristas se tinham unido e também queriam saber como é que se fazia um sindicato». De repente, a ideia simples de Hetlard impulsionava um quinto de todas as greves nos EUA.

Para deter esta onda, o patronato decidiu recorrer a outra ideia simples, ainda menos original, mas bastante mais radical: encerrar os cafés contaminados pela luta e, onde isso era pouco rentável, despedir os dirigentes sindicais. Em 2022, 42 por cento dos estabelecimentos encerrados tinham sindicato constituído, quando menos de 4 por cento de todos os cafés da marca têm sindicato. Foi isso que aconteceu num Starbucks de Memphis, no Tennessee, onde o patrão decidiu despedir todos os sete membros do comité organizador do sindicato.

A batalha pela readmissão dos «7 de Memphis» transformou-se numa luta nacional por uma ideia simples: o direito de formar um sindicato e lutar colectivamente por uma vida melhor. «Como os nossos cafés são muito pequenos, não é fácil termos muito apoio e há mais medo. A solidariedade entre os vários estabelecimentos da cadeia foi fundamental.

De repente o pessoal de Memphis percebeu que não estava sozinho. A Starbucks faz tudo igual em todo o lado. Também faz os mesmos problemas, as mesmas lutas. Se as mesmas receitas para fazer café e bolos que funcionam em Bufalo ou em Memphis, as mesmas receitas para vencer os patrões também podem funcionar», explicou Hetlard.

Na semana passada chegou a notícia que, de Bufalo a Memphis, todos os trabalhadores da Starbucks esperavam: um tribunal federal ordenou à Starbucks que readmita os «7 de Memphis» com retroactivos. É a vitória desta ideia simples: é preciso lutar para poder vencer.




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