Sementes de futuro contrariam campanha
A ofensiva contra o PCP, os seus dirigentes e os seus militantes, não é novidade. Aliás, a campanha de difamação dos comunistas tem velhas raízes em Portugal. No entanto, nos últimos anos, o grande capital e os seus centros ideológicos têm semeado pretextos para adensar a cruzada anti-comunista. Se olharmos de forma séria para o período mais recente, percebe-se facilmente que a preocupação do capital nunca foi com a saúde pública ou a paz, mas manter o PCP debaixo de fogo cerrado e denegrir o prestígio dos comunistas junto do povo.
Ora, é inegável que, à custa desta campanha, o PCP tem sofrido repercussões negativas. Todavia, por outro lado, são muitos os que percebem esta injustiça e encontram motivação para a contrariar, tomando Partido. São os casos dos dois jovens militantes que conversaram com o Avante! esta semana.
Duarte é um jovem de 17 anos natural de Caldas da Rainha. Pensa estudar Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, já no próximo ano lectivo. Conta que o seu interesse pelo socialismo, o marxismo e o comunismo não germinou em casa. A sua irmã vota na CDU, apesar de não ser militante do PCP ou do PEV. A mãe é de esquerda, mas não vota na CDU, e o pai assume-se como liberal. À parte isso, teve apenas uma professora com quem conversou muito e trocou várias opiniões e ideias.
«Depois do começo da guerra, a forma como a demagogia aumentou, em Portugal e no mundo, é assustadora. A forma como utilizaram a guerra para aumentar os preços de bens que são essenciais, castigando em especial as que passam maiores dificuldades, foi terrível», reflecte. «Foi ao perceber que há muita coisa que está mal e achar que a melhor alternativa para mudar esta realidade é o comunismo, que me juntei ao PCP», explica. Inscreveu-se no Partido há dois meses. Procurou, de seguida, a JCP, onde também já milita.
Quando questionado acerca das suas expectativas sobre o futuro do Partido, Duarte parafraseia José Saramago: «é dever dos cidadãos tomar dever dos seus deveres». «Os direitos e os seus deveres. Acho que é assim. Se existem coisas que estão mal e existem pessoas que estão a tentar mudar isso, muita gente se vai juntar a elas mais tarde ou mais cedo», afirma.
Rodrigo também é jovem, tem 19 anos. Natural de Vila Franca de Xira, estuda no Ensino Superior. É frontal ao afirmar que sempre soube que um dia se iria juntar ao Partido. Só não sabia quando. O seu avô, um exemplo a seguir para o jovem, foi sempre militante do PCP. O seu tio-avô chegou mesmo a ser autarca e o resto da família materna de Rodrigo apoia a CDU.
O «clique», como diz, só se deu depois de «toda a questão da guerra na Europa». «Senti uma certa injustiça em relação ao que estava a ser dito sobre o PCP e sobre o que diziam que os comunistas diziam. Senti que era a altura ideal para dar o meu contributo», afirma. Assim foi, no final de Março, inscreveu-se na JCP e no PCP.