Media, concentração e poder

Carlos Gonçalves

Foi con­fir­mado pela ERC que a SIC ma­ni­pulou a no­tícia do co­mício de en­cer­ra­mento do cen­te­nário do PCP com per­ver­sões e men­tiras. Fica a con­clusão, mas sem con­sequên­cias, para que a pro­vo­cação con­tinue. Não se es­tranha, dado o peso an­ti­co­mu­nista do grupo SIC-Ex­presso e a sua pro­xi­mi­dade à Trusted News Ini­a­tive, que junta, desde 2019, BBC, Twitter, Reu­ters, Go­ogle, Meta/​Fa­cebbok, Washington Post, as mul­ti­na­ci­o­nais de redes so­ciais e os media do­mi­nantes, para «har­mo­nizar a men­sagem», contra as fake news e as «cam­pa­nhas» e em de­fesa da «li­ber­dade de im­prensa» e de «mer­cado» (como se vê nesta guerra na Eu­ropa!).

O pro­cesso de con­cen­tração e cen­tra­li­zação de ca­pi­tais, in­fluência, poder e do­mínio im­pe­ri­a­lista apro­funda-se, com mais ex­plo­ração, re­gressão do plu­ra­lismo e da li­ber­dade de in­formar. Entre os «novos grupos» me­diá­ticos des­taca-se a Media Ca­pital (TVI, CNN), cujo CEO «as­tro­nauta» vai res­ponder à jus­tiça por ou­tros «ne­gó­cios» que não o da CNN, a venda dos rá­dios ao grupo alemão Bauer por 70 mi­lhões ou a par­tilha de di­vi­dendos da TVI, apesar da quebra de 50% do seu valor; con­firma-se o Global Media Group (JN, DN, TSF), que anuncia in­ves­ti­mentos no di­gital e novos pro­jectos, mas avança com res­ci­sões (des­pe­di­mentos) de 81 tra­ba­lha­dores; e surgem novos players como a ALPAC, em­presa de fundos e ca­pi­tais de risco, que, de­pois de com­prar a Eu­ro­news, avançou para o Nascer do Sol e o I, apa­ren­te­mente em apoio à di­reita mais «con­ser­va­dora», ou como o grupo Eme­rald, de ca­pi­tais an­go­lanos, que pre­tende juntar à Forbes Por­tugal o Jornal Eco­nó­mico e o Novo Se­ma­nário (com dí­vidas a «co­la­bo­ra­dores») da La­pa­news, um pro­jecto que se de­fine de «centro-di­reita».

Por­tugal está assim pe­rante o do­mínio con­so­li­dado e o as­salto, ainda cres­cente, de in­te­resses sem pá­tria, nal­guns casos por meros es­pe­cu­la­dores ou testas de ferro de mul­ti­na­ci­o­nais, que põem em causa a de­mo­cracia e a in­de­pen­dência na­ci­onal. É ur­gente a de­núncia e é im­pe­ra­tivo cum­prir a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica, que de­ter­mina (art.º 38.º) que com­pete ao Es­tado im­pedir a «con­cen­tração» dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial, «de­sig­na­da­mente através de par­ti­ci­pa­ções múl­ti­plas ou cru­zadas». Esta é uma luta pelas li­ber­dades de im­prensa e de in­for­mação, pela so­be­rania.



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