Nos 40 anos da primeira greve geral CGTP-IN recordou resultados
«Os resultados laborais do confronto foram desde logo assinaláveis», destacou a CGTP-IN, numa nota publicada dia 12, a propósito da primeira greve geral em democracia, realizada 40 anos antes.
Isolado, o Governo AD caiu 10 meses depois, com a continuação da luta
No comunicado, a confederação lembra que, «em finais de 1981, o desemprego registado era de 8,8 por cento; a previsão da OCDE para a inflação do ano seguinte era de 25 por cento; e o Governo anunciara um tecto salarial de 14,75 por cento e a intenção de rever a legislação laboral, para facilitar os despedimentos».
Naquela «situação social explosiva», os trabalhadores «responderam com grandes manifestações, ainda em Dezembro de 1981» e, «entre 4 e 8 de Janeiro de 1982, cerca de 900 mil trabalhadores, grande parte da indústria e todo o sector dos transportes estavam em greve por aumentos salariais e pelos contratos colectivos».
Foi neste contexto que, «no dia 15 de Janeiro de 1982, o Plenário de Sindicatos da Intersindical declarou greve geral de 24 horas para o dia 12 de Fevereiro de 1982, sob o lema “Uma só solução: ‘AD’ fora do Governo!”».
Como resultados «assinaláveis», na nota da CGTP-IN refere-se que «todos os aumentos salariais foram acima dos 20 por cento e alguns foram de mais de 30 por cento, estilhaçando o tecto salarial»; o «pacote laboral» (iniciativa do Governo para alteração das leis do trabalho) «foi metido na gaveta e só foi de lá tirado em 1988, no Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva»; «em vez dos 18 meses da lei, os CCT passaram a vigorar apenas 12 meses»; e o Governo «ficou socialmente isolado e caiu cerca de 10 meses depois, com a continuação da luta, que se manteve, depois da greve geral, num alto grau de intensidade».
Nas páginas do Avante!
Aquela jornada mereceu grande destaque no Avante!, desde logo nas semanas que antecederam a sua realização e na edição de 11 de Fevereiro.
No dia 18, além de notícias e números da adesão à greve, foi publicada uma mesa-redonda sobre o tratamento da jornada na comunicação social.
Na resolução do Comité Central, que se reunira na véspera, afirmava-se que a greve geral «constituiu a mais vasta, participada e poderosa greve da história do movimento operário português, uma magnífica vitória dos trabalhadores e da democracia contra o governo “AD” e a sua política, um elemento político novo na situação nacional, confirmando o impetuoso fluxo da luta popular».
No dia 25, inserindo-se na «batalha da verdade, contra a formidável campanha de intoxicação, calúnias e mistificação da “AD” e dos seus aliados no campo democrático», o Avante! noticiou as novas acções decididas no Plenário Nacional de Sindicatos da CGTP-IN.
Mas o grande destaque foi para o comício do PCP, no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, a 18 de Fevereiro. Antes de abordar aspectos mais gerais da situação política, o Secretário-geral do Partido, Álvaro Cunhal, desmascarou diversos episódios do «plano insurreccional» agitado pelo Governo e pelo ministro do Interior, Ângelo Correia.
Referindo-se às greves, «direito consagrado na Constituição», Álvaro Cunhal salientou que elas «constituem, como a experiência mostra, uma arma poderosa dos trabalhadores» e «vão continuar, queiram ou não queiram as forças reaccionárias e o seu Governo».
Quanto à greve geral e à eventual realização de novas greves gerais, o dirigente comunista observou que «uma greve geral (que seja verdadeiramente geral, como foi a de 12 de Fevereiro) não é jornada que se possa repetir todos os dias».
Realçou, em seguida, três pontos:
1. «Provou-se que os trabalhadores portugueses atingiram um grau de consciência de classe, de consciência política, de organização, de unidade e de combatividade que tornam possível que realizem uma grandiosa greve política, como foi a de 12 de Fevereiro.»
2. «Provou-se que uma greve geral, e greve geral política contra o Governo, insere-se nos direitos e liberdades dos cidadãos, é não só legítima, mas inteiramente legal.»
3. «Provou-se que a convocação de uma greve geral com objectivos políticos teve mais capacidade mobilizadora que greves parciais com objectivos económicos imediatos.»
Álvaro Cunhal concluía que, «por tudo isso, no desenvolvimento da luta popular nos tempos próximos, não se pode excluir a realização de novas greves gerais». Ou, «falando numa linguagem mais simples: os trabalhadores tomaram o gosto à greve geral e não lhes faltará vontade de repetir, se necessário».
A colecção do Avante! pode ser consultada no site do jornal (www.avante.pt), na secção «Arquivo», pelos assinantes e leitores, usando as respectivas credenciais (como se explica na pág. 30).