Direitos e lucros

Poderá parecer um lugar-comum realçar a importância das legislativas do próximo domingo, ou não fossem as eleições, por definição, momentos em que se decide muito do futuro imediato do País, das perspectivas do seu desenvolvimento, da vida do seu povo. Mas de facto não é pouco o que estará em questão no dia 30, antes pelo contrário.

E não nos referimos aos assuntos laterais com que nos querem entreter – as declarações inflamadas, os cenários pós-eleitorais, as possíveis coligações, as eventuais demissões dos derrotados –, mas àquilo que efectivamente importa, mesmo que à maioria dos portugueses e não aos média de serviço: o salário e a pensão que não chegam ao fim do mês, os horários e os turnos de trabalho que não deixam tempo para mais nada (e a troco de tão pouco), o custo da renda, da energia e do combustível que aumenta sem parar, a escola sem condições, a consulta constantemente adiada.

Centremo-nos na questão da Saúde, em torno da qual se trava uma intensa disputa, ou não movimentasse este sector, anualmente, qualquer coisa como 20 mil milhões de euros.

Nas últimas semanas, até quem sempre combateu o Serviço Nacional de Saúde mostra-se preocupado com a degradação dos serviços, com a fuga de profissionais para o sector privado e para o estrangeiro, com os atrasos nas consultas e nas cirurgias, com os milhares de utentes sem médico de família. E apresentam uma solução, aparentemente milagrosa, para todos estes problemas, a que chamam liberdade de escolha, belas palavras com que tentam esconder uma intenção bem mais prosaica – a de entregar tudo quanto possa ser rentável aos grupos privados, os tais que no início da epidemia preferiram regatear preços em vez de contribuir para a resposta que se impunha e que só o SNS deu.

Esta fórmula nem sequer é nova e os resultados são conhecidos. Nos EUA, paradigma da liberdade de escolha, revela o instituto Gallup que, em 2018, 25% da população já tinha adiado tratamentos para condição médica séria em virtude dos elevados custos praticados, o valor mais alto desde que há registos; já um grupo de investigadores de Harvard concluiu que por ano morrem cerca de 45 mil norte-americanos por não terem cobertura de seguro de saúde (só em 2018 mais de 27 milhões terão perdido essa mesma cobertura).

Mas outros há que, jurando defender o SNS, todos os dias favorecem a sua degradação – desinvestindo, recusando tomar medidas capazes de fixar profissionais, transferindo para o sector privado consultas, exames, cirurgias... e quase seis mil milhões de euros ao ano, os mesmos que depois faltam nos serviços públicos de Saúde.

A defesa do SNS público, universal, geral e gratuito faz-se também com o voto. E no domingo, só há um que o assegura.

 



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