José Dias Coelho, um herói que continua ao nosso lado

O PCP evocou José Dias Coelho no domingo, 19, quando se cumpriam precisamente 60 anos do seu brutal assassinato pela PIDE. Talentoso artista plástico e dedicado militante comunista, José Dias Coelho constitui um «exemplo de firmeza serena, de convicções e de carácter que nós, com orgulho comunista, queremos guardar para sempre como património da nossa luta», realçou Jerónimo de Sousa na sessão realizada a poucos metros do local onde se deu o hediondo crime.

José Dias Coelho é um exemplo de firme e corajoso combatente pela liberdade e a democracia

A 19 de Dezembro de 1961, às 20 horas, a morte saiu à rua em Alcântara, então uma fervilhante zona operária da cidade de Lisboa. José Dias Coelho, funcionário clandestino do PCP com a responsabilidade pelo Sector Intelectual, era perseguido, cercado e abatido por cinco agentes da PIDE – um tiro à queima-roupa, no peito, e outro disparado quando já se encontrava caído. Levado pelos criminosos, só duas horas depois seria deixado no Hospital da CUF, onde morreria pouco depois. Tinha 38 anos.

Aquela vida, interrompida de uma forma tão brutal quanto cobarde, foi breve mas intensa, sendo a generosidade, porventura, a «palavra chave da vida que foi a sua», como se podia ler na exposição patente no pavilhão do IEFP na Rua dos Lusíadas, onde se realizou a sessão evocativa.

Num dos painéis, aliás, lembrava-se as palavras do escritor José Cardoso Pires em Julho de 1974, dedicadas ao herói comunista: «Esta capacidade de abranger o mundo e de tudo partilhar foi, tenho a certeza, a poderosa força de José Dias Coelho, aquilo que o impeliu para a tarefa de modificar e construir contra o errado e o desumano.» Ou, como ele próprio dizia, «em toda a parte, há um pedaço de mim que se quer dar».

Artista antifascista

Nascido em 1923 no concelho de Pinhel, José Dias Coelho vai para Lisboa em 1938, frequentando o Colégio Académico, onde toma contacto com algumas das mais destacadas figuras da cultura portuguesa de então, como Bento de Jesus Caraça, Fernando Lopes-Graça, Carlos de Oliveira, Abel Manta.

Como sublinharia Jerónimo de Sousa na sessão evocativa, estes professores, perseguidos pelo fascismo, foram essenciais para que José Dias Coelho aprofundasse «os horizontes da sua cultura humanista e democrática», apurasse a sua sensibilidade artística e estética e desenvolvesse «esse traço da sua personalidade que o acompanhou até ao fim da vida – o da sua revolta contra as injustiças sociais e a opressão».

Concluído o Liceu, frequenta a Escola de Belas Artes de Lisboa – primeiro em Arquitectura e depois, finalmente, em Escultura. É nessa altura que adere à Federação das Juventudes Comunistas e inicia a sua actividade política, na frente da Solidariedade, particularmente para com os presos políticos e suas famílias. Participa também nas actividades do MUNAF e do MUD, principalmente na sua Comissão de Escritores e Artistas Democráticos, «lutando por dar espaço ao papel libertador da arte», como realçaria, na sua intervenção, o Secretário-geral do Partido.

Desta acção resulta a renovação da Sociedade Nacional de Belas Artes e a organização da primeira Exposição Geral de Artes Plásticas, que desempenham um papel importante na renovação do panorama artístico português, no combate ao preconceito e aos obscurantismos estéticos, no fortalecimento da unidade antifascista dos intelectuais e artistas.

Por esta altura, começa a ser reconhecido como escultor de grande valor, ao mesmo tempo que produz ilustrações, desenhos e gravuras.

A mais dura batalha

Participante activo em todas as lutas estudantis, políticas e culturais dos anos 40 e 50 do século XX, José Dias Coelho é preso a 1 de Janeiro de 1949, quando se empenhava na candidatura presidencial do General Norton de Matos. É mantido incomunicável durante 10 dias no Aljube. A sua participação activa na luta pela paz leva-o, após os protestos contra a reunião da NATO em Lisboa, em 1952, a ser expulso de todas as escolas do País e proibido de leccionar.

Em Outubro de 1955, mergulha na luta clandestina, como funcionário do Partido Comunista Português, deixando para trás – como lembrou Jerónimo de Sousa – «as primeiras encomendas de escultura e a sua mais que certa consagração como artista de grande nível», mas também os amigos. Fê-lo, realçou ainda o Secretário-geral, com plena consciência dos riscos que representados por tal decisão, que caracterizava como de «obscura heroicidade».

A primeira tarefa que assume, nesta sua nova condição, é a de montar uma oficina de falsificação de documentos, destinados à defesa dos militantes clandestinos: bilhetes de identidade, licenças de bicicleta, cartas de condução, passaportes. Elabora também várias gravuras para a imprensa clandestina, designadamente o Avante! – a última delas, publicada pouco antes da sua morte, retrata outro crime do fascismo, o assassinato do operário Cândido Martins, à frente de uma manifestação em Almada; a legenda, que o próprio José Dias Coelho redigiu, quase que podia ser autobiográfica: «De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas».

No início da década de 60, redige A Resistência em Portugal, que dá a conhecer em vários pontos do mundo a natureza do fascismo e os seus crimes, a resistência e os seus protagonistas mais destacados, os comunistas. É também integrado na direcção do Partido em Lisboa, com a responsabilidade do Sector Intelectual: «É o regresso ao trabalho de construção da unidade antifascista junto dos intelectuais. A sua última tarefa será a preparação do trabalho unitário de organização da campanha das eleições fascistas de Novembro de 1961, que a Oposição aproveitava para desmascarar a guerra colonial que havia irrompido no início desse ano» – recordou Jerónimo de Sousa.

Exemplo vivo

«Os anos podem passar, mas o seu Partido Comunista Português não esquece José Dias Coelho», afirmou o Secretário-geral a começar a sua intervenção na sessão que encheu por completo o amplo recinto, situado bem próximo do local onde o herói comunista caiu, varado pelas balas assassinas da PIDE, e onde uma vez mais se depositou uma grande coroa de cravos vermelhos – símbolo da Revolução que não viu, mas para a qual tanto contribuiu.

Em ano de Centenário, Jerónimo de Sousa explicou a vitalidade do Partido com o facto de ter contado nas suas fileiras com revolucionários da têmpera de José Dias Coelho, «gente de uma coragem inaudita, dedicada militância, firmeza de convicções. Gente de grande tenacidade, capaz de todos os sacrifícios e de tudo enfrentar». Tão significativa presença, ali, naquela iniciativa, tinha um objectivo central: fazer com que «nunca se esqueça e perdure na memória das gerações vindouras o nome e o exemplo de José Dias Coelho e nele também o de todos os nossos heróis».

Para além de Jerónimo de Sousa, estiveram presentes na sessão evocativa Ricardo Costa, da Comissão Política, e José Capucho, da Comissão Política e do Secretariado, e ainda Emília Dias Coelho, irmã do herói homenageado. A magistral actuação de membros do Coro Lopes-Graça, dirigidos pelo maestro Alexandre Branco Weffort (e por José Robert, no Acordai!), evidenciou o papel central que, na luta revolucionária, assumem a Cultura e a Arte, às quais tanto se dedicou José Dias Coelho.

Após uma magnífica introdução, com Mudar de Vida, de Carlos Paredes, e A Internacional, cantou-se canções de trabalho, temas populares e, ainda, o Hino de Caxias e A Morte Saiu à Rua, tema de José Afonso em homenagem a José Dias Coelho evocando o seu assassinato. As Heróicas ficaram para o fim, o Acordai! e, antes, Jornada, onde se garante que «até mortos vão ao nosso lado». Mesmo que tão vivos como está, ainda hoje, José Dias Coelho.



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