Sandra Pereira, deputada do PCP no PE, presente nas eleições na Venezuela
A convite do Conselho Nacional Eleitoral da República Bolivariana da Venezuela, Sandra Pereira, deputada do PCP no Parlamento Europeu e Vice-presidente da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-americana (EUROLAT), esteve de 16 a 22 de Novembro na Venezuela.
As eleições de domingo foram um acto de afirmação soberana da Venezuela
A deputada comunista acompanhou, na qualidade de observadora internacional, a realização das eleições regionais e municipais neste país, acto soberano do Estado e do povo venezuelanos que teve lugar no domingo, 21. Nesse escrutínio, o Partido Socialista Unido da Venezuela venceu em 20 das 24 entidades federais – 19 dos 23 governadores regionais (que podem ser ainda 21 e 20, respectivamente, pois num Estado aguardava-se ainda a confirmação oficial dos resultados) e o município capital, Caracas. Este foi o 29.º acto eleitoral realizado no país em 21 anos de Revolução Bolivariana, tendo as forças progressistas vencido 27.
De regresso, Sandra Pereira contou ao Avante! as suas impressões.
A tua recente deslocação à Venezuela deveu-se à realização de eleições?
Sim, desloquei-me à Venezuela como observadora internacional das eleições regionais e municipais que se realizaram no passado domingo, dia 21 de Novembro. Estive presente a convite do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da República Bolivariana da Venezuela. Fomos mais de 300 observadores internacionais, de cerca de 55 países, a acompanhar estas eleições. Eleições em que, pela primeira vez em 15 anos, também esteve presente uma missão de observação da União Europeia, que havia anteriormente rejeitado múltiplos convites das autoridades venezuelanas para acompanhar actos eleitorais neste país.
E em que contexto se realizaram estas eleições?
O lema que o CNE escolheu para estas eleições foi «Glória ao bravo povo», o título do hino nacional da Venezuela, o que me parece muito acertado. Ao contrário do que a comunicação dominante pretende, temos que ter presente que se trata da realização de um acto soberano e democrático, no quadro da imposição pelos EUA e seus aliados de brutais e criminosas sanções, bloqueio e roubo de activos contra a Venezuela, e que procura premeditadamente atingir as condições de vida do povo venezuelano.
Desde que Obama, em Março de 2015, declarou hipocritamente que a Venezuela representaria uma dita ameaça à segurança dos EUA, abrindo a porta à intensificação da agressão contra este país latino-americano, que o povo venezuelano foi obrigado a enfrentar muitas dificuldades. Se pensarmos que uma economia como a venezuelana, fortemente dependente da exportação de petróleo, esteve 14 meses sem vender uma gota, temos uma ideia não só do enorme impacto do bloqueio imposto por Trump e seguido por Biden, como da capacidade de resistência da Venezuela e do povo venezuelano, incluindo durante o período de pandemia.
Estas eleições realizam-se após um esforço e processo de diálogo do Governo venezuelano com parte da oposição. Dos mais de 70 mil candidatos nas eleições regionais e municipais, mais de 67 mil eram candidatos da oposição. É, pois, legítima a esperança de que estas eleições constituam um novo passo para abrir um caminho de paz, de prosperidade, de bem-estar, de defesa da soberania e da independência da Venezuela, face à acção agressiva e criminosa dos EUA e dos seus aliados.
Como decorreu a tua estadia?
Bem, o marco mais importante foi obviamente o acompanhamento das mesas eleitorais no dia 21. Nas mesas que visitei, tudo decorreu com normalidade, com regras sanitárias por causa da epidemia, a presença de todos os elementos das mesas, incluindo de delegados nomeados pelos diferentes partidos, o bom funcionamento do sistema electrónico, com o qual todos sabiam lidar. Tivemos a oportunidade de falar com várias pessoas que estavam confiantes no processo eleitoral e no exercício democrático através do voto.
Nos dias anteriores ao dia das eleições, foi possível visitar o centro de monitorização dos canais de televisão e a demonstração, com a instalação das mesas, de como funciona o sistema eleitoral venezuelano, assim como das suas 17 auditorias que se realizam antes, durante e depois das eleições. Em diferentes dias, houve também vários seminários sobre as eleições e o seu contexto, do qual destaco um sobre a economia e conjunturas eleitorais. Decorreu igualmente um encontro com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Félix Plasencia, que agradeceu e valorizou a presença e a solidariedade de todos os observadores internacionais que se deslocaram à Venezuela.
E que outros contactos tiveste, para além da agenda oficial?
Houve a oportunidade de participar num encontro com Nicolas Maduro, presidente da República Bolivariana da Venezuela, na tarde de sábado. Além do sentido agradecimento pela presença dos observadores internacionais, realço da sua mensagem a crítica ao «veredicto» que há de vir da missão de observação da UE e que o Presidente antecipa como uma forma de «neocolonialismo», que põe em causa a «institucionalidade venezuelana» e pretende «humilhar os países, impor modelos e violar a soberania», e o que afirmou ser a viragem para um novo modelo económico com novas fontes de gestão de riqueza, abandonando o «modelo rentista, importador, dependente, capitalista», que matou o sistema produtivo do país, passando à transição para o «socialismo humanamente gratificante», nas palavras de Chávez.
Para além de participar no encontro com Nicolas Maduro, tive ainda a oportunidade de me encontrar com Daniela Rodríguez, Vice-Ministra para a Europa, com Roy Daza, da Comissão dos Assuntos internacionais do Partido Socialista Unido de Venezuela, e com Carolus Wimmer, secretário das Relações Internacionais do Partido Comunista da Venezuela.
Nas diversas ocasiões, tive a oportunidade de expressar a solidariedade do PCP com a Venezuela bolivariana e com o povo venezuelano e o respeito pelo acto soberano que levou milhões de venezuelanos às urnas para elegerem os candidatos a governadores, presidentes de câmara e vereadores.