Fazer da Etiópia uma Líbia, uma Síria
A Etiópia, um dos países mais populosos da África, está à beira de uma guerra civil generalizada em resultado do agravamento do conflito armado que opõe há mais de um ano o governo federal à Frente de Libertação Popular do Tigré (FLPT) e aliados.
A União Africana (UA), com sede em Adis Abeba e cuja antecessora, a Organização de Unidade Africana, nasceu em 1963 na capital etíope, defende a necessidade de um processo político para solucionar a crise. No início desta semana, um alto representante da UA, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, reuniu-se com o líder da FLPT, Debretsion Gebremichael, que terá manifestado disponibilidade de «sentar-se à mesa e resolver o conflito através da negociação».
A situação na Etiópia gera também «grande preocupação» no seio das Nações Unidas, que advertem para as consequências que teria para toda a região do Corno de África – com a Somália em guerra e o Sudão em convulsão – e o continente uma escalada do conflito interno etíope.
No Conselho de Segurança, a representante da Rússia, Anna Evstigneeva, sublinhou o compromisso do seu país em trabalhar para preservar a unidade e a integridade territorial da Etiópia. E realçou que a Rússia é contra a imposição de sanções unilaterais ilegais, a ameaça de tais medidas ou a recusa de ajuda económica, o que só pioraria a situação do povo que já sofre, em vez de conseguir a reconciliação.
Do seu lado, a China reafirmou a sua confiança na capacidade das autoridades e do povo etíopes para superar as actuais circunstâncias. O representante chinês no Conselho de Segurança, Zhang Jun, afirmou que a Etiópia é um país sábio, pode resolver as diferenças e devolver à nação o caminho correcto da paz e estabilidade. Opinou que há que confiar num governo eleito de maneira democrática e com apoio popular e num país capaz de viver em harmonia durante muitas fases da sua história, apesar da sua diversidade étnica, religiosa e cultural. E reiterou o apoio da China à unidade e integridade territorial da Etiópia, apelando a que se evitem acções ou processos de ingerência estrangeira no conflito.
Quanto aos Estados Unidos da América, ameaçam impor sanções comerciais e cortar as «ajudas económicas» ao governo de Adis Abeba em resposta ao que Washington considera «graves violações dos direitos humanos» no país africano.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, declarou o estado de emergência no país, apelou à unidade nacional e acusou a recente aliança da FLPT com outros oito grupos rebeldes – assinada em Washington – de tentar transformar a Etiópia num nova Líbia ou Síria.
Ahmed não avançou pormenores mas os povos lembram-se bem que, em 2011, os EUA e seus aliados da NATO intervieram militarmente na Líbia destruindo o Estado norte-africano e que, na mesma altura, iniciaram uma guerra de agressão contra a Síria, que continuam a alimentar, directamente e através de grupos terroristas.
A Etiópia não é, pois, um caso isolado. No quadro da sua estratégia de domínio mundial, sempre invocando a defesa dos direitos humanos e da democracia, o imperialismo continua hoje, com os seus serventuários locais, em África e em todo o mundo, a favorecer divisões, fomentar guerras e impedir o desenvolvimento dos países, subjugando os povos e pilhando as suas riquezas.