Honoris Causa a Abílio Fernandes por uma vida dedicada a Évora
A Universidade de Évora atribuiu o título de Doutor HonorisCausa a Abílio Fernandes, o militante comunista que durante 25 anos presidiu à Câmara Municipal daquela cidade. A cerimónia realizou-se na quinta-feira, 14.
Abílio Fernandes está ligado à transformação profunda de Évora
Abílio Fernandes, hoje com 83 anos, foi eleito aos 38 presidente da Câmara Municipal de Évora, o primeiro em democracia. Durante as duas décadas e meia em que esteve à frente dos destinos do município alentejano (em listas da FEPU, APU e CDU) foi concebido, aprovado e implementado o primeiro Plano Director Municipal do País e Évora viu reconhecido o seu centro histórico como Património Mundial da UNESCO.
Estas foram algumas das razões que levaram a Universidade de Évora (UÉ) a conceder-lhe o título de Doutor Honoris Causa, apontadas pela reitora, Ana Costa Freitas. A responsável máxima pela instituição considerou que Abílio Fernandes «teve uma visão de afirmação da cidade, ao mesmo tempo que se preocupava em dar mais bem-estar às pessoas, principalmente aos mais desprotegidos». Enquanto o fazia, valorizou, «deu mundo à cidade de Évora, inundando-a de cultura».
O elogio do homenageado ficou a cargo de Rui Namorado Rosa, professor jubilado daquela Universidade, que lembrou os mais relevantes aspectos da biografia pessoal e política de Abílio Fernandes: o nascimento em Moçambique, os estudos superiores em Lisboa, a docência e a actividade política democrática em Évora e, já após a Revolução, a filiação no PCP, a eleição para a presidência da Câmara Municipal, os anos como deputado e toda uma intensa actividade política e cívica, que continua.
Rui Namorado Rosa lembrou como era Évora em 1974, com os seus bairros «clandestinos», a carência de arruamentos, abastecimento de água e saneamento, e como a resolução destes graves problemas sociais foi preocupação central da autarquia presidida por Abílio Fernandes.
Uma distinção que tem de ser colectiva
Emocionado e emocionante, Abílio Fernandes – falando perante uma vasta plateia, em que se destacavam familiares, amigos e camaradas, como o próprio Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa – mostrou-se surpreendido, mas gratificado, pela distinção que lhe foi atribuída. Porém, realçou, a responsabilidade que assumiu na vida do município não foi individual, mas «inserida num trabalho colectivo de todos os eleitos, chefias e trabalhadores da Câmara Municipal de Évora» e no envolvimento de «pessoas de grande relevo na vida pública local, nacional e internacional».
Recordando o momento histórico em que lhe coube presidir ao município, Abílio Fernandes lembrou que a «grande maioria do povo português acreditava na construção de um mundo novo e contribuía com entusiasmo para um melhor futuro de Portugal». Naquele tempo e espaço concretos, tal resultou em profundas transformações, particularmente a Reforma Agrária e o Poder Local Democrático. Relativamente a este último, o antigo autarca realçou os princípios matriciais de gestão implementados desde a primeira hora em Évora (como em muitos outros órgãos geridos pelos comunistas e seus aliados): a unidade, a não partidarização dos órgãos autárquicos, a rejeição do presidencialismo, o respeito pela autonomia e competências das juntas de freguesia, o planeamento participado e a implementação rigorosa dos planos, o trabalho colectivo e a relação de proximidade com o cidadão.
A terminar, Abílio Fernandes destacou o «contributo exemplar» dado por Évora na consolidação da democracia e do Poder Local Democrático, «com reflexos indeléveis no bem estar e qualidade de vida dos eborenses». E partilhou a distinção que lhe foi atribuída com todos os que contribuíram para que o concelho atingisse elevados patamares de desenvolvimento e, sobretudo, com população de Évora, que «assumiu o destino da cidade nas suas mãos».