A Festa que lhes dói
Há cerca de um ano, a SIC produziu uma peça construída em torno de uma ideia que ajudou a animar a campanha de mentiras em torno da Festa do Avante!: o PCP punha o «dinheiro à frente da saúde». A afirmação foi feita pela estação de televisão, atribuindo-a a acusações de alguém nunca identificado, um velho truque que consiste em recorrer a afirmações do género «diz-se por aí», cabendo aí as mais torpes insinuações. Na base da peça estava uma leitura mais que enviesada do relatório da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos sobre as contas do PCP de 2019.
Para quê, um ano depois, ir reanimar o chorrilho de mentiras a que a SIC recorreu? Porque, aparentemente, a memória é tão curta naquela redacção que quem as disse já se esqueceu delas. Ainda há dias víamos uma nova peça, na mesma estação, mas desta vez sobre os «prejuízos históricos» de 2020, prejuízos que «já acumula nos últimos sete anos». Um ano depois, os números voltam a ser escolhidos da forma mais conveniente, em cada momento, ao propósito mal disfarçado: atacar a Festa e o Partido que a organiza.
Ao longo de meses, em 2020, a Festa esteve sob ataque mediático, com o recurso aos mais diversos meios – da manipulação à mentira –, para no final, depois de as condições em que se realizou desmentir cabalmente todas as acusações de que foi alvo, alguns dos personagens principais da campanha (como Marques Mendes) acabarem por terem de reconhecer isso mesmo.
Na mais recente peça da SIC, não há um reconhecimento dos erros cometidos pela estação no ano passado, muito menos do seu empenhamento em fazer tudo para que a última edição da Festa não fosse um sucesso – intenção sem êxito. Tão pouco é feita referência às medidas extraordinárias adoptadas (naturalmente com reflexo financeiro) que garantiram a segurança sanitária ao longo daqueles três dias na Quinta da Atalaia.
Entretanto, a Festa voltou a ser votada ao silêncio, mesmo após vários anúncios feitos já relativamente à edição deste ano: das artes plásticas ao cinema, passando pela divulgação dos artistas que lá vão actuar. Tudo isso foi, no geral, apagado do espaço mediático.
Após o que assistimos há um ano, dificilmente restariam dúvidas relativamente ao ódio que a realização que constitui a Festa do Avante! provoca em certos sectores com influência no espaço mediático, mas não é demais registar estes episódios. São já largos anos em que muitos dos principais órgãos de comunicação social têm espaço ilimitado para as especulações, insinuações e deturpações que sirvam para atacar a Festa e o que ela representa, em claro contraponto com a crónica falta de espaço para mostrar o que de facto se passa naqueles três dias.
Veremos, nas semanas que faltam até a Festa do Portugal de Abril voltar a abrir as suas portas, se o tratamento mediático virá contradizer estas linhas, sem que o passado recente permita grandes ilusões a este respeito.