«As greves dos têxteis nos anos 40: da memória à construção do futuro»
No âmbito das comemorações do Centenário do PCP, o Partido promoveu, no Tortosendo, Covilhã, uma sessão pública evocativa das históricas greves dos trabalhadores do sector têxtil ocorridas nos anos 40 do século passado. Intervieram Casimiro dos Santos, professor de História e membro da Direcção da Organização Regional de Castelo Branco do PCP, Marisa Tavares, operária têxtil, dirigente sindical e militante do PCP, e João Frazão, da Comissão Política do Comité Central do PCP.
Casimiro dos Santos foi o primeiro a usar da palavra para situar as greves no contexto das condições de vida e de trabalho da época, do desenvolvimento do movimento operário na região e no País, demonstrando, com referências históricas, o papel desempenhado pelo PCP. Abordou, ainda, o carácter do regime fascista, que favorecia a acumulação monopolista acentuando a exploração do trabalho através de repressão, e considerou que as formas de trabalho em casa, hoje caracterizadas como inovadoras, em que os trabalhadores detêm as ferramentas e arcam com custos de produção, são, afinal, velhas formas usadas desde os primórdios da indústria têxtil com o chamado «sistema doméstico».
Já Marisa Tavares partiu do exemplo das greves dos anos 40 para sublinhar «a importância da luta no pós 25 de Abril, em particular a greve de 1981, que demonstrou o carácter repressivo da coligação de direita AD e abriu caminho para a primeira greve geral em 1982». Salientou igualmente, a actualidade da luta contra a exploração que hoje se intensifica, seja a pretexto da epidemia seja pelas tentativas de condicionamento e ataque à negociação colectiva.
A encerrar, João Frazão começou por destacar a poderosa resposta dos trabalhadores nas greves dos anos 40, que em poucos dias paralisaram mais de 10 mil trabalhadores em toda a região serrana, tendo o regime fascista feito abater sobre o povo uma brutal repressão, mandando mesmo encerrar as empresas e cortar o racionamento na tentativa de fazer vergar os corajosos lutadores.
Agora como antes
Do bravo exemplo de ontem para os dias de hoje, João Frazão considerou que «a pandemia tem as costas largas». Deu disso mesmo três exemplos: o facto de 253 trabalhadores daquela que já foi a maior empresa de têxteis-lar do mundo viverem com «o coração nas mãos», isto depois de a Coelima apresentar o pedido de insolvência sem nada que o justifique; o facto de as associações patronais invocarem o surto epidemiológico para continuar a negar aumentos salariais, com efeitos na compressão das remunerações no sector e apesar dos recordes de produção nos últimos anos; o facto de o patronato apostar, além do mais, na caducidade do Contrato Colectivo de Trabalho para retirar direitos, neste aspecto com a cumplicidade do Governo do PS, que suspendeu o prazo para a caducidade mas insiste em não revogar a norma iníqua.
Neste sentido, no período aberto ao debate com os presentes na iniciativa, foi vincada a necessidade de os trabalhadores prosseguirem a luta estribados nos gloriosos exemplos do passado, já que, como antes, a natureza exploradora do sistema capitalista não se alterou.