Baptista Pereira; campeão do povo, comunista, democrata e atleta
HONRAR O PCP assinalou, no dia 14, o centenário do nascimento do atleta comunista Baptista Pereira numa sessão pública em Alhandra, Vila Franca de Xira, que contou com a presença de Jerónimo de Sousa.
«O direito à prática desportiva é indispensável»
A tarde de domingo ia sensivelmente a meio quando Filipa Costa, da Comissão de Freguesia de Alhandra, abriu a iniciativa Centenário de Baptista Pereira – Uma vida de luta e dignidade saudando os presentes, anunciando os objectivos e apresentando os oradores. Com o Tejo como pano de fundo, Joaquim Carreira foi chamado a ler um excerto de Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, que se inspirou no próprio Baptista Pereira para construção da personagem de Gineto, uma das principais desta obra pioneira do neo-realismo.
Campeão de natação nacional e internacional, incluído no Quadro de Honra dos seis melhores nadadores do mundo, Baptista Pereira teve uma brilhante carreira desportiva, na qual se contabilizam 150 vitórias, incluindo na célebre travessia do Canal da Mancha de 1954, uma das maiores proezas do desporto português. A homenagem do PCP incidiu sobre a carreira desportiva, mas estendeu-se a todas as dimensões da sua personalidade, como realçou Jerónimo de Sousa na última intervenção da tarde: «Assinalamos aqui, hoje, o centenário de Joaquim Baptista Pereira – o campeão do povo – militante comunista, democrata, um atleta extraordinário, que aos 14 anos era já o melhor nadador português nos 200, 400, 1500 metros, e foi-o durante 15 anos consecutivos.»
O atleta comunista nasceu a 7 de Março de 1921, um dia depois da fundação do PCP . Não aprendeu a ler nem a escrever, era filho de gente pobre e desde muito cedo viu-se forçado a trabalhar nas fábricas de telha instaladas à beira rio. «Com uma profunda ligação ao Tejo, desde muito cedo que fazia dos esteiros a sua “piscina olímpica” e acompanhava o pai na faina da pesca. Foi-se aventurando sozinho no rio e não poucas vezes foi “ao lado de lá” matar a fome com fruta apanhada nas quintas de Alcochete», relatou Jerónimo de Sousa.
Vítima do fascismo, que o impediu de competir durante alguns anos, o atleta nunca teve apoios oficiais, mas tão somente a ajuda solidária das gentes da sua Alhandra e do Baixo Ribatejo. «Mas Baptista Pereira não foi só um extraordinário desportista», afirmou Jerónimo de Sousa. «O homem que não pôde ser menino ganhou consciência de classe, pela dureza do trabalho que desde muito novo teve de assumir e pela sua relação com figuras como Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol e António Dias Lourenço», acrescentou o Secretário-geral.
Membro activo do Partido, ao qual aderiu em 1946, Baptista Pereira militou na célula da Cima, onde colaborou na distribuição do Avante! com Beatriz Falcão, participou nas lutas reivindicativas das décadas de 60 e 70 e contribuiu para o Partido nos mais diversos aspectos após o 25 de Abril.
Ao lado dos alhandrenses
Antes de Jerónimo de Sousa, já Cláudia Martins, da Comissão de Freguesia de Alhandra e da Comissão Concelhia de Vila Franca de Xira, tinha afirmado que «falar de Alhandra é indissociável de falar de Baptista. Cem anos passados do seu nascimento e aqui continuamos a lutar contra as injustiças, pela liberdade, pela democracia». A jovem dirigente salientou ainda que se o lendário atleta ali estivesse, continuaria a lutar ao lado dos comunistas.
«Lutaria a nosso lado pela reposição das freguesias, ombro a ombro com o povo de São João dos Montes e de Calhandriz», disse. Mas também lutaria, com os alhandrenses, por melhores condições e apoio ao movimento associativo popular, pelo direito à cultura e pela reabilitação do Teatro Salvador Marques, por mais e melhores serviços públicos, por mais médicos de família, por melhores transportes e pela habitação.
«Nos tempos de criança de Baptista Pereira, a pobreza e a fome eram filhas da exploração, dos baixos salários, do trabalho sem direitos e do trabalho infantil», recordou Cláudia Martins, para quem é certo que ele estaria hoje solidário com a luta dos trabalhadores da Iberol e da Cimpor contra os despedimentos, os salários em atraso ou a falta de pagamento de horas extraordinárias.
«Por tudo o que foi referido e muito mais, o exemplo de Baptista Pereira, para as gerações presentes e futuras, ultrapassa em muito os seus enormes feitos desportivos», concluiu.
Desporto para todos
Falar de Baptista Pereira é falar do desporto popular. Ora, lembrou Jerónimo de Sousa, a epidemia de COVID-19 veio expor ainda mais a fragilidade em que se encontram muitos atletas, que à semelhança do comunista ali evocado pouco mais têm do que a sua vontade e determinação.
«Os clubes, federações, associativismo desportivo, o desporto federado e os atletas contam hoje com escassez de recursos e apoios públicos e com a redobrada preocupação face à situação criada com o confinamento», afirmou o Secretário-geral, acrescentando: «Na luta que o PCP assume por uma política alternativa, patriótica e de esquerda, o direito à pratica desportiva é indispensável para um desenvolvimento harmonioso das crianças e jovens com melhores condições de vida e de saúde física e mental.»
O PCP tem apresentado, ao longo dos últimos meses, medidas que permitiriam dar resposta aos problemas enfrentados pelo desporto. Entre elas, contam-se a criação de um programa de apoio extraordinário para o movimento associativo popular, que possibilite a compensação dos prejuízos financeiros e a retoma gradual e segura das suas actividades; a criação de um programa de incentivo à prática desportiva e à normalização gradual das competições; o regresso gradual do público a todos os eventos desportivos e a auscultação das entidades nacionais do associativismo desportivo de forma a ser criada uma nova normalidade com quem melhor conhece o território e a realidade desportiva.