Mais um falcão
Nos primeiros meses da Administração Barack Obama dissemos aqui, na sequência dos bombardeamentos dos EUA ao Iraque, que, ao contrário das idílicas expectativas de quem ainda acreditava em contos de fadas boas, o 44.° Presidente dos Estados Unidos da América não seria ainda a pomba da paz por que a humanidade ansiava, mas, pelo contrário, seria apenas mais um falcão da guerra.
A vida veio dar-nos, infelizmente, razão. Barack Obama, laureado Nobel da Paz, num esforço para branquear a imagem do imperialismo norte americano, foi mesmo o Presidente que manteve aquele país permanentemente em guerra durante os oito anos do seu mandato. Nem o ar simpático e cosmopolita, nem as anunciadas boas intenções mudaram as opções de intervenção em vários países do mundo, lá, onde os povos tivessem a ousadia de decidir dos seus destinos.
O fim do ano de 2020 e o início deste ano de 2021, mobilizou, uma vez mais, as ilusões de muitas boas almas. Reconheça-se que a urgência de substituição de Donald Trump criava as condições para uma esperança razoável, compreensível até, para quem acompanhou, até à náusea, o percurso insano do agora ex-presidente.
Mas poucos dias de mandato do recém empossado presidente chegam para confirmar as precauções dos mais avisados.
Para lá de diferenças de estilo, de ritmo, de prioridades até, no plano interno, que só o tempo confirmará na sua globalidade, o que está à vista revela que a política externa norte americana mantém os seus eixos essenciais, visando consolidar a sua posição de potência imperialista hegemónica no mundo, mau grado as evidentes dificuldades económicas e sociais em que se encontra.
A ordem para bombardear, 36 dias apenas depois de tomar posse, uma vez mais, a martirizada Síria, violando, com a mesmíssima violência de antes, a soberania e a independência daquele território, fazem de Joe Biden, exactamente como o seu antecessor, e como o antecessor dele, mais um falcão da guerra.