«Europeísmo» e «Atlantismo» de mãos dadas
Quanto ao essencial da «nova» política externa norte-americana nenhuma novidade
O aprofundamento da crise estrutural do capitalismo está a agudizar as contradições inter-imperialistas num quadro em que os EUA procuram a todo o custo contrariar o seu declínio e acorrentar os aliados à sua estratégia de hegemonia mundial. O América primeiro de Trump e o América está de volta de Biden traduzem esse mesmo objectivo. A diferença reside na táctica da nova administração para recuperar junto dos seus aliados a credibilidade e a confiança abaladas, disciplinar alianças a começar pela NATO, juntar forças na sua cruzada contra o que considera serem as ameaças à «segurança comum» e ao seu apregoado modelo de «democracia liberal». Mas quanto ao essencial nenhuma novidade. Continuam a ser alvos a abater todos quantos, de Cuba e Venezuela ao Irão ou à Síria resistem ao dictat imperialista. E Rússia e China são apontados como inimigos em relação aos quais Washington considera inadmissível a mais pequena manifestação de autonomia dos seus parceiros.
É o que está a acontecer em relação à União Europeia, este bloco imperialista que pela mão da Alemanha e também da França, ao mesmo tempo que saúda efusivamente o advento da administração Biden e confirma o seu compromisso com o reforça do «pilar europeu da NATO», preconiza uma confusa «autonomia estratégica» que melhor defenda os interesses dos grandes grupos multinacionais de base europeia. Daí a inquietação da super-potência norte- americana e as suas manobras para contrariar as tendências centrifugas que se manifestam na aliança transatlântica e atalhar veleidades de autonomia de decisão mais atrevidas, agitando o espantalho de grandes ameaças e perigos e alimentando focos de tensão que forcem um cerrar de fileiras do campo imperialista na sua luta contra os trabalhadores e contra os povos que por todo o mundo resistem e lutam para se libertar do imperialismo. O que se passa com as pressões sobre a Alemanha para abandonar a cooperação com a Rússia para a construção do gasoduto Nord Stream II, ou o coro de ameaçadoras criticas à UE pela assinatura preliminar do Acordo de Investimento com a China são exemplos das sérias disputas no campo imperialista que os EUA querem a todo o custo resolver em seu favor, arrastando os aliados para uma política de confrontação que ameaça a paz mundial.
Nada disto nos surpreende, antes pelo contrário, pois estamos perante a confirmação das análises do nosso XXI Congresso. Como não nos surpreende o vergonhoso comportamento dos fazedores de opinião que, como Teresa de Sousa ou Severiano Teixeira, militam no Público pela submissão de Portugal à União Europeia que por sua vez não concebem senão amarrada e agradecida ao «amigo americano». Um tal posicionamento tem de ser energicamente denunciado e combatido e tanto mais quanto, como o indica o artigo de Augusto Santos Silva no Público de 28.02.21, é política do Governo do PS. A luta pela ruptura com a política de direita e por uma alternativa patriótica e de esquerda passa necessariamente por aqui.