Fazer Planos não é planificar

Manuel Gouveia

Expliquemos-nos. Vivemos mergulhados em Planos. Agora está em discussão pública o Plano de Recuperação e Resiliência, que tem em conta o Plano «Costa e Silva» e a Estratégia Portugal 2030, e, entre muitos outros, o PNPOT, o PNEC 2030, o PNI 2030, o Portugal Digital, o Programa de Valorização do Interior e o Plano de Melhoria da Resposta do SNS.

Mergulhados em Planos mas numa economia liberalizada onde o Estado abdica do comando estratégico da economia. E por essa opção estrutural, vivemos numa economia não planificada, anárquica, que se desenvolve ao sabor da vontade dos «mercados» e da concorrência, ou seja, da procura de lucros, da extracção da máxima mais-valia, das assimetrias, da concentração da riqueza, das crises.

Mas esse Estado que se demite de planificar faz Planos. Planos que se sucedem uns aos outros, com as promessas dos novos a esconder a não concretização das anteriores. Aprovam o Portugal 2030 e em 2021 já estamos a discutir um novo Plano, o PRR. Planos cheios de milhões que passam de uns para os outros e parecem sempre coisa nova e fresca. Planos cuja concretização nunca é avaliada, cujos impactos nunca são mensurados, que geralmente nem chegam ao fim, substituídos por outros planos.

Planos onde se planeia o que faz o Estado para «atrair», ou «estimular» ou «promover» o investimento privado, mas que acabam com o Estado refém dos planos do grande capital, que neles planeia como expropriar os fundos públicos e como disfarçar essa expropriação.

O que faz falta aos trabalhadores e ao povo é outra coisa, é um Estado ao seu serviço e uma economia planificada. Assente na cooperação e não na competição. Assente na propriedade pública dos meios de produção. Que em vez de lucros e privilégios para uma casta, garanta aos trabalhadores e ao povo a liberdade de usufruir plenamente da vida sem medo e sem penas.




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