Não repor freguesias extintas é desrespeitar a vontade popular
Vai o PS, em convergência com o PCP, encontrar uma solução que permita, ainda a tempo das próximas autárquicas, repor as freguesias extintas há oito anos por PSD e CDS contra a vontade das populações? Ou, em desrespeito pela vontade das populações e dos seus representantes eleitos, fará impor critérios artificiosos que impeçam na prática essa reposição, defraudando expectativas?
Estas são questões que não obtiveram resposta definitiva no debate realizado dia 29 em torno de iniciativas legislativas do Governo, PCP, PEV e BE sobre a reposição de freguesias extintas, apesar do desafio lançado pela deputada comunista Paula Santos, que admitiu ainda ser possível tal objectivo, assim haja vontade política. Certo é que em breve tudo ficará em pratos limpos durante os trabalhos da comissão parlamentar para onde os quatro diplomas baixaram, sem votação, a pedido dos seus autores.
Apesar do compromisso que assumiu em 2018 de que apresentaria uma proposta de criação de freguesias capaz de corrigir as situações anómalas até ao próximo acto eleitoral, o Governo só em Dezembro de 2020 a formalizou, criando «dificuldades objectivas», como referiu Paula Santos, que endossou ao PS e ao Governo o «ónus»pelo atraso deste processo legislativo.
Em causa está não a definição de critérios para a criação de freguesias, mas a elaboração de legislação que permita a reposição de freguesias extintas, «respeitando as posições das populações e dos respectivos órgãos autárquicos», sintetizou a parlamentar comunista,
Nessa direcção vai o projecto de lei do PCP ao propor a criação de um regime transitório que estabeleça o procedimento que permita a reposição de freguesias onde essa seja a vontade das populações e tenha havido oposição à extinção por parte dos respectivos órgãos, com possibilidade de nova pronúncia no prazo de 45 dias.
Muito diferente é a proposta de lei ao estabelecer um conjunto de critérios para a criação de freguesias, critérios esses que o Governo quer ver aplicados às freguesias que pretendem ser respostas. Foi a própria ministra da Modernização Administrativa, Alexandra Leitão, aliás, a afirmar que o diploma «não visa aumentar ou diminuir freguesias», mas actualizar os critérios para a sua criação e rectificar incorrecções da dita «reforma» de 2013.
Ora, ao pretender estabelecer tais critérios (dimensão populacional, área geográfica, viabilidade económica-financeira, equipamentos, entre outros) que as freguesias extintas contra a sua vontade não conseguem cumprir, o que a proposta governamental faz é impedir, na prática, a reposição dessas freguesias.
«Não é uma proposta de reposição de freguesias, nem prevê uma norma transitória para a sua reposição», «nem permite corrigir muitas das situações que o Governo dizia que deveriam ser corrigidas», criticou, por isso, Paula Santos, que lembrou ainda não ter a mesma obtido o parecer favorável nem da ANMP nem da ANAFRE.