Duas reaparições e uma fotografia

Ângelo Alves

Há quem diga que «em política não há coincidências», e a frase tem muito de verdade. Vem a reflexão a propósito de duas reaparições e uma fotografia. Comecemos pelas reaparições. A primeira foi de Cavaco Silva que numa entrevista, falando da TAP, veio defender a ideia de que o Estado não deve ter qualquer participação em sectores estratégicos da economia. Um metro, ou uma impressora de notas ainda vá… mas nada mais que isso. Pelo meio não resistiu e vai de regurgitar o ódio pelo PCP, pelo papel do Estado na economia e pelos trabalhadores, identificando dois crimes: a reversão do assalto privado à TAP e a diminuição do horário para 35 horas. Tudo culpa do PCP, partido que na sua opinião não tem nada a ver com democracia. Democracia é, no seu entendimento, o acordo com o Chega nos Açores, isso sim!

Passemos à segunda aparição. Passos Coelho escolheu uma homenagem a Alfredo da Silva, o patrão da CUF, símbolo da elite capitalista da ditadura fascista, para também falar da TAP, quase com as mesmas palavras do seu Cavaco mentor, adicionando populismo a contento, afirmando-se preocupado com o dinheiro que indo para a TAP vai faltar na educação e na saúde e pesar nas jovens gerações. Hipocrisia em estado puro, vinda do homem que protagonizou os maiores ataques aos salários da História recente do País, que cortou a direito nas pensões, que roubou feriados, que privatizou tudo aquilo que conseguiu (incluindo a TAP nos últimos dias do seu Governo), que depauperou a saúde, a educação e outros serviços públicos, que mandou os jovens desempregados emigrar e que negociou a venda do Novo Banco à Lone Star. Por último a fotografia. O chefe do Chega deu também uma entrevista, e fez questão de mostrar na sala a foto de Passos Coelho.

Estas três «coincidências» levam-nos a outras tantas conclusões: a) o ódio que destilam contra o PCP demonstra a importância do que conseguimos travar em 2015; b) não desistem dos projectos que travámos e estão a reorganizar-se para os tentar de novo c) o Sr. Ventura e a sua agremiação política é um mero instrumento. Velho, carcomido e do sistema, no pior que ele tem.




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