Abjecções e pulsões de direita

Carlos Gonçalves

O cronista das causas e políticas de direita no Público, J. M. Tavares, escreveu, a propósito dos acordos para o governo regional nos Açores, que as «abjecções» do «Chega», não são mais graves do que as que atribui ao PCP (velhas calúnias do fascismo), assim promove os acordos PSD/CDS e sucedâneos, que sempre defendeu. Lamenta apenas que tenha sido «cedo de mais» e que fique a nu o plano para 2023 – de recuperação demagógica pelos sucedâneos «anti-sistema» e «mediáticos» dos votos dos «desiludidos» com a sua política, para uma nova coligação reaccionária no governo do País.

De facto, o acordo para quatro anos da direita e seus sucedâneos nos Açores é de raiz bem diferente da nova fase da vida política nacional (2015-2019) e comprova que as forças da demagogia reaccionária são instrumentais e estão de volta à «barriga da mãe» (PSD/CDS). A abrangência do acordo a questões de revisão constitucional, como a redução do número de deputados (e da representatividade democrática), encaixa na agenda da direita, interrompida em 2015, no projecto do Presidente Sousa desde 1997 e nas pulsões de um seu putativo segundo mandato de reconduzir o seu PSD ao governo.

Neste quadro, a decisão do «estado de emergência» do Governo PS, com o PR e o PSD/CDS, sem respostas para a crise económica e social e a grave situação no Serviço Nacional de Saúde, constitui um contributo, opaco e preocupante, para o clima de medo e que potencia todas as dificuldades. É um passo da pulsão securitária de direita, e é o PS que lhe abre caminho e que até considera uma duração quase ilimitada.

Mas as abjecções e pulsões de direita e da política de direita podem contar com a luta dos trabalhadores e do povo e com a afirmação dos valores de Abril no futuro de Portugal.




Mais artigos de: Opinião

(Absurdo) Ou talvez não

O agravamento da epidemia, com o crescimento significativo, embora previsível, do número de pessoas infetadas (e internadas) com a doença da COVID-19 não pode deixar de constituir motivo de preocupação. O povo português foi e é o primeiro a reconhecê-lo como se verificou ao longo dos últimos 8 meses em que se aprendeu a...

Doce amargo

Está todo o ano ao alcance da mão, enche prateleiras em todos os supermercados, tem lojas dedicadas e marcas exclusivas, sofisticadas umas, outras nem tanto, varia de tamanho, qualidade, preço, mas é no período das festas que atinge todo o seu esplendor. Mete-se pelos olhos dentro onde quer que se vá, é quase impossível...

Os sucedâneos

Chegaram há cerca de um ano à Assembleia da República com os discursos (e os jeitos) bem ensaiados: há que mudar o sistema, refundar o regime, combater a corrupção, libertar a Constituição da sua carga ideológica. Aproveitando-se de ventos mediáticos favoráveis, Chega e Iniciativa Liberal apresentaram-se como produtos...

Casa-trabalho-casa

A partir do início de Março e durante o confinamento dos primeiros meses do ano, o discurso de protecção do vírus centrou-se sobretudo no «fique em casa». Agora o discurso é diferente: «isolamento social», não arrisque, reduza os contactos ao mínimo.

EUA, só um passo atrás do precipício

Num tempo invulgar e altamente turbulento não faltam temas salientes na actualidade internacional. As grandes linhas do 14.º plano quinquenal e do plano a longo prazo até 2035, aprovadas no recente plenário do CC do PC da China, e a entrada na nova etapa de «modernização socialista» do país que está no centro do processo...