A falta que a escola faz

Manuel Rodrigues

Ini­ciou-se esta se­mana o novo ano es­colar. É, sem dú­vida, um passo po­si­tivo, de­vendo as­se­gurar-se os meios ne­ces­sá­rios (no­me­a­da­mente os pro­fis­si­o­nais) e as con­di­ções para que a re­lação pe­da­gó­gica (sempre pre­fe­rível à re­lação vir­tual) de­corra no con­texto de uma edu­cação pú­blica, gra­tuita, de qua­li­dade e in­clu­siva, como de­ter­mina a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa.

Também esta se­mana a di­re­tora-exe­cu­tiva da UNICEF in­formou que quase 900 mi­lhões de cri­anças em todo o mundo não re­gres­saram ainda à es­cola de­vido à pan­demia da COVID-19, o que as pode tornar mais vul­ne­rá­veis ao tra­balho in­fantil, a abusos se­xuais, à vi­o­lência fí­sica e emo­ci­onal.

«Quanto mais tempo as cri­anças ficam au­sentes da es­cola – afrmou ainda – mais di­fi­cul­dade têm em re­gressar à es­cola», sus­tentou, avi­sando que «há o risco de que mi­lhões de cri­anças acabem no aban­dono es­colar de­vido à COVID-19».

Hen­ri­etta Fore re­alçou, ainda, que pelo menos 463 mi­lhões de cri­anças não ti­veram acesso ao en­sino à dis­tância por falta de com­pu­ta­dores ou de li­gação à in­ternet.

Por sua vez, a di­re­tora-geral da UNESCO, Au­drey Azoulay, en­fa­tizou que a re­a­ber­tura de «forma se­gura» das es­colas deve «ser uma pri­o­ri­dade», sendo que nos «meios mais des­fa­vo­re­cidos» as es­colas ga­rantem não só a edu­cação, mas também a saúde, se­gu­rança e nu­trição das cri­anças.

Nestes 463 mi­lhões de cri­anças que não ti­veram acesso ao en­sino à dis­tância por falta de com­pu­tador ou li­gação à in­ternet, quantas terão sido as cri­anças por­tu­guesas?

Tendo pre­sente a na­tu­reza de­su­mana (e cruel) do poder opressor do ca­pital mo­no­po­lista, não há dú­vida que di­reitos como estes ou se de­fendem e alargam ou se perdem e de­fi­nham. Que falta que faz uma es­cola ver­da­dei­ra­mente de­mo­crá­tica para pro­mover o de­sen­vol­vi­mento in­di­vi­dual e so­cial, as­se­gurar o bem-estar! e até mesmo salvar vidas! E quão im­por­tante e car­re­gada de hu­ma­nismo é a luta que tra­vamos para que essa es­cola (a que há muitos anos Abril abriu portas) se con­cre­tize!




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