A montanha pariu um papo-seco

Vasco Cardoso

É difícil imaginar quem, senão o PCP, teria condições para enfrentar uma violenta e prolongada campanha como aquela que ao longo de 4 meses se desenvolveu de forma crescente contra a Festa do Avante!, e ao mesmo tempo, construi-la e realiza-la, fazendo-a funcionar como mais nenhuma outra iniciativa ou evento funcionou em tempos de epidemia, transformando a Quinta da Atalaia, nos dias 3, 4 e 5 de setembro, provavelmente, no mais limpo e seguro espaço do País. A realização da Festa constitui uma derrota para os que não olharam a meios para impedir a sua realização e uma vitória do colectivo partidário, mas também, uma vitória da democracia, dos valores de Abril, dos artistas e trabalhadores da cultura, que aliás fizeram questão de sublinhar esse reconhecimento ao longo daqueles três dias.

O silêncio voltou depois de semanas onde valeu de tudo para difundir o ódio fascizante e o preconceito anti-comunista. O episódio da abertura do principal noticiário da SIC, com uma notícia em como a imprensa estrangeira tratava o «suicídio colectivo» que os comunistas preparavam em Portugal, mesmo que desmentida logo a seguir, é bem reveladora sobre até onde pode ir a senha persecutória e qual o valor da verdade e da mentira nos tempos que correm.

Durante os três dias estiveram na Festa dezenas de repórteres, viaturas, carros de exteriores, drones enviados pelos principais órgãos de comunicação social. Provavelmente à caça do «grande ajuntamento», da mesa suja, do abraço descuidado, da embriagues descontrolada, do incumprimento das regras da DGS, dos «infectados», mas nada. À falta de melhor, consta que circulou nas redes sociais em grande escala – alguém se encarregou de tal – uma senha com uma imperial e um papo-seco, prova dos muitos «crimes» cometidos na Festa. Enfim!

Mas atenção. Seria ingénuo desvalorizar os efeitos desta operação ou pensarmos que a coisa ficou por aqui. O alvo desta campanha não era apenas e só a Festa, mas o Partido que a organiza e constrói. Eles nunca nos vão perdoar a audácia de querer um mundo novo.




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