Amílcar Cabral:Uma aliança libertadora

Albano Nunes

«Não pode ser livre um povo que oprime ou­tros povos»

Co­me­mo­ramos este ano o 45.º ani­ver­sário da in­de­pen­dência dos povos afri­canos sub­me­tidos ao jugo co­lo­nial por­tu­guês. Uma efe­mé­ride que foi as­si­na­lada no Es­paço In­ter­na­ci­onal da Festa do Avante! com um de­bate em que par­ti­ci­param re­pre­sen­tantes do MPLA, PAICV, PAIGC e FRE­LIMO. De­bate que foi ex­pressão dos es­treitos laços de ami­zade, so­li­da­ri­e­dade e co­o­pe­ração for­jados entre o PCP e os mo­vi­mentos de li­ber­tação na­ci­onal que con­du­ziram, de armas na mão e à custa de ex­tra­or­di­ná­rios sa­cri­fí­cios, as lutas dos seus povos pela con­quista da in­de­pen­dência.

Re­a­li­dade que é mo­tivo de le­gí­timo or­gulho dos co­mu­nistas por­tu­gueses, que traduz a firme po­sição pa­trió­tica e in­ter­na­ci­o­na­lista do PCP e con­firma a tese mar­xista fun­da­mental que não pode ser livre um povo que oprime ou­tros povos. Re­a­li­dade que traduz a ali­ança do povo por­tu­guês e dos povos das ex-co­ló­nias por­tu­guesas na luta contra o fas­cismo e o co­lo­ni­a­lismo. A Re­vo­lução de 25 de Abril e a con­quista da in­de­pen­dência pelos povos su­jeitos ao jugo co­lo­nial por­tu­guês estão es­trei­ta­mente li­gadas.

Na sua his­tória de quase 100 anos, o PCP or­gulha-se das re­la­ções de pro­funda ami­zade e ali­ança com­ba­tiva que se es­ta­be­le­ceram, pas­sando pela sua par­ti­ci­pação na luta de­mo­crá­tica e an­ti­fas­cista em Por­tugal, com al­guns dos prin­ci­pais re­vo­lu­ci­o­ná­rios afri­canos que di­ri­giram a luta li­ber­ta­dora dos seus povos. Tal é o caso de Amílcar Ca­bral, Se­cre­tário-geral do PAIGC, teó­rico e di­ri­gente des­ta­cado, não apenas da luta ar­mada dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, mas do mo­vi­mento de li­ber­tação na­ci­onal afri­cano e mun­dial. O seu vil as­sas­si­nato pela PIDE não im­pediu que a luta ar­mada he­róica da força re­vo­lu­ci­o­nária que ele cons­truiu, con­du­zisse, ainda antes da Re­vo­lução de Abril, à pro­cla­mação da in­de­pen­dência da Guiné-Bissau em Ma­dina do Boé, em 1973.

As­si­na­lando-se, neste mês de Se­tembro, o ani­ver­sário do nas­ci­mento de Amílcar Ca­bral lem­bramos uma sua afir­mação car­re­gada de con­teúdo po­lí­tico e ide­o­ló­gico: «Mas nós nunca con­fun­dimos o “co­lo­ni­a­lismo por­tu­guês” com o “povo de Por­tugal”, e temos feito tudo, na me­dida das nossas pos­si­bi­li­dades, para pre­servar, apesar dos crimes co­me­tidos pelos co­lo­ni­a­listas por­tu­gueses, as pos­si­bi­li­dades de uma co­o­pe­ração eficaz com o povo de Por­tugal, numa base de in­de­pen­dência, de igual­dade de di­reitos e de re­ci­pro­ci­dade de van­ta­gens seja para o pro­gresso da nossa terra, seja para o pro­gresso do povo por­tu­guês. (...) O povo por­tu­guês está sub­me­tido há cerca de meio sé­culo a um re­gime que, pelas suas ca­rac­te­rís­ticas, não pode ser dei­xado de ser cha­mado fas­cista. (...) A nossa luta é contra o co­lo­ni­a­lismo por­tu­guês. Nós somos povos afri­canos, ou um povo afri­cano, lu­tando contra o co­lo­ni­a­lismo por­tu­guês, contra a do­mi­nação co­lo­nial por­tu­guesa, mas não dei­xamos de ver a li­gação que existe ente a luta an­ti­fas­cista e a luta an­ti­co­lo­ni­a­lista.»



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