Fascismo sistémico

Filipe Diniz

Em 1789, quando a bur­guesia era re­vo­lu­ci­o­nária, as suas pa­la­vras de ordem eram li­ber­dade, igual­dade, fra­ter­ni­dade. Hoje, e desde há muito, a grande bur­guesia apenas to­lera uma so­ci­e­dade em que essas pa­la­vras sejam obli­te­radas, ou em que o seu sen­tido es­teja in­tei­ra­mente de­gra­dado.

Se pros­peram em muito lado mo­vi­mentos fas­cistas, há que pre­cisar que não se trata de qual­quer fe­nó­meno con­jun­tural. Pelo con­trário, trata-se de uma so­lução po­lí­tica pela qual o ca­pital mo­no­po­lista tem par­ti­cular pre­fe­rência, que de algum modo já en­saiara antes de a pa­lavra «fas­cismo» ser cu­nhada. A di­ta­dura ter­ro­rista não é uma ano­malia, é um ins­tru­mento pri­vi­le­giado da do­mi­nação do ca­pital mo­no­po­lista.

Ao pas­sarem 75 anos sobre o bom­bar­de­a­mento de Hi­ro­xima e Na­ga­sáqui pelos EUA, deve re­cordar-se que esse crime foi o cul­minar de uma frac­tura in­terna no im­pe­ri­a­lismo: parte dele en­con­trara-se em guerra contra outra parte, e não apenas ti­vera que se aliar com a URSS mas também de en­con­trar apoio nos mo­vi­mentos de re­sis­tência po­pular, na sua grande mai­oria en­ca­be­çados por co­mu­nistas. A razão desse mons­truoso crime foi im­pedir a ren­dição do Japão ao Exér­cito Ver­melho, mas foi so­bre­tudo um gesto de exor­ci­zação da mais do­lo­rosa das re­a­li­dades para o ca­pital mo­no­po­lista: der­ro­tara amigos, aliado a ini­migos.

Nunca mais deixou de tentar in­verter esse revés. Re­cu­perou, pro­tegeu, in­cen­tivou todos os fas­cistas que pôde, ali­mentou em todas as frentes o mais fa­ná­tico an­ti­co­mu­nismo. Em muitos países ca­pi­ta­listas (a co­meçar pelos EUA) há ge­nuína pre­o­cu­pação pelo ca­libre dos per­so­na­gens que ocupam o poder. Acon­tece que por de­trás desses per­so­na­gens está um sis­tema cri­mi­noso e es­go­tado cujo es­tertor ameaça a hu­ma­ni­dade in­teira.

Hoje, o sen­tido das pa­la­vras de ordem de 1789 apenas pode ser o da pro­le­tária «terra sem amos», cujo ca­minho é o so­ci­a­lismo.




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