A realidade que não é notícia
Em tempos de «crise da comunicação social», um dos temas que nesta semana marcou a actualidade foi a transferência milionária de uma conhecida apresentadora para um canal privado de TV. Acompanhada por mais dois jornalistas, e veremos por mais quem, porque como diz o povo a procissão ainda vai no adro.
Ao mesmo tempo que têm lugar estas transferências num sector que se diz «em crise», os trabalhadores do sector, da imprensa regional e das rádios locais continuam a enfrentar diversos problemas como a degradação dos salários e dos direitos, os despedimentos em massa, a precariedade e a desregulação de horários. Mas esta realidade, que é o dia-a-dia da maioria dos trabalhadores da comunicação social, não dá capas de jornais, grandes títulos e notícias. Pelo contrário, é ocultada e escondida deliberadamente.
Realidade e problemas que se agravaram, uma vez que os grupos económicos e mediáticos aproveitaram também eles o surto epidémico para atacar os direitos dos trabalhadores da comunicação social, degradar as suas condições de trabalho e agravar a sua exploração. Assim foi com os despedimentos, com os lay-off, com as arbitrariedades como a imposição do teletrabalho. Tudo para acelerar a reestruturação do sector, que já estava em marcha, e a sua progressiva concentração em poucos grandes grupos de comunicação social. Naturalmente que tudo isto, degradação da situação dos trabalhadores e concentração, terá um enorme efeito negativo na qualidade da informação que nos vai chegar. Já hoje isso se faz sentir, mesmo no próprio tratamento da actividade política do PCP.
Se há coisa que este episódio, que não é órfão, também vem demonstrar é que a «crise da comunicação social» é um engodo usado pelos grupos económicos e mediáticos com o pretexto de receberem milhões do Estado, como foi a oferta de 11 milhões de euros aos grandes media. Sendo também uma falsidade comprovada pelo crescimento dos lucros destes grupos em 2019 e pelas operações financeiras que vão tendo lugar, como o processo de aquisição da Media Capital-TVI ou a alienação do património da Global Media.
Ao contrário de outros, como o BE, que não perdeu tempo a vir pedir milhões para os grupos económicos e mediáticos, ou como o Governo PS, aplaudido pelo Presidente da República, que foi muito lesto em disponibilizar os já mencionados milhões, o PCP esteve e está com quem neste sector sofre e sente problemas todos os dias, solidário com quem luta, com intervenção e propostas no plano institucional para lhes dar resposta.
É uma intervenção e proposta que não tem tido o mediatismo e os holofotes que são dados ao oportunismo de outros, porque ao contrário destes, não serve os interesses dos grandes grupos económicos deste sector para poderem continuar com as suas negociatas, antes os enfrenta, mesmo que isso signifique que os seus posicionamentos sejam empurrados para o caixote do lixo, deturpados ou silenciados por quem controla e domina a comunicação social.