Dois exemplos… silenciados

Ângelo Alves

Ao momento em que escrevemos este artigo as mortes por COVID-19 na região da América Latina ultrapassaram a barreira de 130 mil óbitos. Os casos confirmados de epidemia pelo novo-coronavírus na região chegam aos três milhões, aproximando-se assim o ponto em que a América Latina pode passar a ser a região do Mundo mais afectada pela pandemia. Se somarmos a estes números a América do Norte chegamos à cifra de mais de 6 milhões de casos, cerca de 52% do total em todo o Mundo.

Nas Américas estão alguns dos países mais afectados pela pandemia. É o caso dos EUA com mais de três milhões de casos e mais de 133 mil mortos; do Brasil com 1,6 milhões de casos e mais de 65 mil mortos; de outros como o Peru ou o Chile que superam ambos os 300 mil casos; ou o do México que contabiliza um quinto das mortes na região por COVID-19.

Segundo estudos recentes, os efeitos económicos e sociais da COVID19 na região da América Latina irão provocar uma regressão social de enormes dimensões que poderá empurrar a realidade social para níveis anteriores ao início do Século, ou seja, antes do progresso social registado com a afirmação progressista e soberana nesse período.

É neste contexto que existem dois países que marcam a diferença pela positiva. O primeiro é a Venezuela. Sujeito a um brutal bloqueio económico e a um enorme conjunto de manobras de destabilização e ingerência, o País conta com 7400 casos e 68 óbitos. As suas fronteiras registam enormes fluxos de entrada de cidadãos que ali tentam encontrar refúgio. O segundo é Cuba. No passado dia 3 de Julho o País deu a epidemia por controlada, registando 2400 casos acumulados, dos quais 94% recuperados, e retomou todas as actividades económicas. O País que na passada segunda-feira enviou mais 100 médicos para a Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe, tem neste momento 67 casos activos e registou desde o início da pandemia 89 óbitos. São de facto dois exemplos notáveis. Não só de persistência e resistência, mas de progresso, justiça e humanidade. É por isso que são silenciados pela comunicação social dominante.




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