Comunistas da Índia condenam repressão de protestos pacíficos

O Par­tido Co­mu­nista da Índia (Mar­xista)/ PCI(M) ex­pressou a sua forte con­de­nação das bru­ta­li­dades da po­lícia na re­pressão de pro­testos pa­cí­ficos no país contra a nova lei de ci­da­dania apro­vada em me­ados de De­zembro.

O bu­reau po­lí­tico do par­tido, em co­mu­ni­cado, «con­dena com fir­meza a brutal re­pressão contra os pro­testos pa­cí­ficos», em par­ti­cular em Uttar Pra­desh e nou­tros es­tados go­ver­nados pelo BJP e em Delhi, onde a po­lícia é con­tro­lada di­rec­ta­mente pelo poder cen­tral. O BJP é o Par­tido Bha­ra­tiya Ja­nata (Par­tido do Povo In­diano), do pri­meiro-mi­nistro Na­rendra Modi, com po­si­ções ex­tre­mistas do na­ci­o­na­lismo hindu.

A Índia as­siste hoje a grandes ma­ni­fes­ta­ções po­pu­lares, re­pri­midas com vi­o­lência, contra a lei de ci­da­dania apro­vada por ini­ci­a­tiva do go­verno. Ela fa­ci­lita a na­ci­o­na­li­dade in­diana a imi­grantes de seis re­li­giões (cris­tãos, bu­distas, hindus, parses, jai­nistas e sikhs) per­se­guidos nos vi­zi­nhos Pa­quistão, Ban­gla­desh e Afe­ga­nistão, mas não abrange mu­çul­manos.

O PCI(M) opôs-se for­te­mente, no par­la­mento in­diano, nas duas câ­maras, à apro­vação da al­te­ração da lei de ci­da­dania – «um ataque ao co­ração da Índia» –, apro­vada pela mai­oria de di­reita que apoia Modi.

O co­mu­ni­cado do Bu­reau Po­lí­tico do PCI(M) re­vela que o nú­mero de mortos em Uttar Pra­desh, Es­tado no Norte da Índia, era de 18 no final do ano e que o ba­lanço con­ti­nuava a subir. Foram presos 69 ac­ti­vistas de par­tidos de es­querda, in­cluindo mem­bros do co­mité dis­trital de Ba­naras do PCI(M).

O go­verno de Uttar Pra­desh, que ame­açou obrigar os ma­ni­fes­tantes a pagar os pre­juízos re­sul­tantes da re­pressão dos pro­testos pelas «forças da ordem», pre­tende fazer crer que as ma­ni­fes­ta­ções são pro­ta­go­ni­zadas apenas por mu­çul­manos.

A re­a­li­dade, de­nun­ciam os co­mu­nistas, é que todos os in­di­anos que de­fendem a Cons­ti­tuição do país, in­de­pen­den­te­mente da re­li­gião, par­ti­cipam nos pro­testos pa­cí­ficos: «dos 69 ac­ti­vistas de es­querda de­tidos em Ba­naras, só 13 são mu­çul­manos, sendo 56 não-mu­çul­manos».

O PCI(M) dá exem­plos da vi­o­lência da re­pressão po­li­cial, em di­fe­rentes es­tados: em Kar­na­taka, no Su­do­este, duas pes­soas foram atin­gidas a tiro por agentes da au­to­ri­dade e uma sede do par­tido foi in­cen­diada em Ben­ga­luru (Ban­ga­lore), a ca­pital; em Tri­pura, no Nor­deste, a po­lícia atacou con­cen­tra­ções po­pu­lares e prendeu di­versos ma­ni­fes­tantes; em Gu­ja­rate, no ex­tremo Oeste, mais de 50 co­mu­nistas, in­cluindo um membro do Co­mité Cen­tral do PCI(M), Arun Mehta, foram de­tidos.

«O di­reito de reu­nião e pro­testo pa­cí­fico é ga­ran­tido pela Cons­ti­tuição in­diana» mas esse di­reito está hoje a ser «as­sal­tado» pelo BJP, in­siste o PCI(M). E apela à con­ti­nu­ação dos pro­testos pa­cí­ficos contra a lei de ci­da­dania, que con­si­dera anti-cons­ti­tu­ci­onal, já que a lei fun­da­mental da Índia proíbe a dis­cri­mi­nação re­li­giosa e o tra­ta­mento de­si­gual dos ci­da­dãos.




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