Proposta salarial do Governo justifica indignação e revolta
ORÇAMENTO Ao preconizar para 2020 uma actualização salarial de 0,3 por cento, o Governo desencadeou fortes protestos dos trabalhadores da Administração Pública e da Frente Comum de Sindicatos.
Em dez anos de congelamento foram perdidos 133 euros em média
No dia 13, sexta-feira, de manhã, a delegação da Frente Comum que iria realizar a segunda reunião com o Governo, sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano e os valores dos salários, apenas aguardou que chegasse o secretário de Estado da Administração Pública, abandonando a sala depois de lhe entregar um documento a reafirmar a proposta sindical de mais 90 euros para todos os trabalhadores.
Este demonstrativo episódio foi relatado aos jornalistas, no exterior, pela coordenadora da Frente Comum. «Não vale a pena estarmos numa mesa a pactuar com um insulto aos trabalhadores, não vale a pena ter qualquer tipo de discussão», disse Ana Avoila, notando que os valores avançados pelo Governo representam seis cêntimos por dia, para os assistentes operacionais, nove cêntimos para os administrativos e 12 cêntimos para técnicos superiores.
A dirigente garantiu que vai haver «uma resposta forte» dos trabalhadores.
Para o final da manhã de hoje, dia 19, foi entretanto convocada uma conferência de imprensa, a fim de «informar sobre as conclusões da [estrutura] Coordenadora da Frente Comum e as acções de luta a desenvolver».
Simulacro
de negociação
Nas declarações prestadas no dia 13, à saída do Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública, no edifício da Presidência do Conselho de Ministros, Ana Avoila lembrou que a Frente Comum tinha mostrado o seu desacordo com o «simulacro de negociação» criado pelo Governo, que determinou a realização de duas reuniões (nos dias 9 e 11) e também a negociação suplementar, intrometendo-se naquilo que é um direito dos sindicatos.
A delegação da Frente Comum, exigindo uma proposta salarial e um calendário para discussão de outras matérias, recusou-se a permanecer na primeira reunião, onde o Governo se limitou a apresentar «linhas gerais», sem indicar qualquer valor para aumentos salariais.
No dia 11, perante os representantes sindicais compareceram os secretários de Estado da Administração Pública e do Orçamento, defendendo uma actualização salarial a acompanhar a inflação. A Frente Comum rejeitou, reiterando a reivindicação de 90 euros e salientando que, para os salários ficarem ao nível de 2009 (antes do congelamento salarial que dura há uma década), teriam de ser aumentados, em média, em 133 euros.
No final dessa reunião, Ana Avoila criticou o «malabarismo» dos governantes que, nas suas declarações, juntaram salários e outros custos de trabalho, procurando dar a ideia de que o aumento salarial proposto seria superior.
Mas o próprio Ministério das Finanças, enquanto decorriam as reuniões com os sindicatos, emitiu um esclarecimento a colocar a subida dos salários no nível da «taxa de inflação observada até Novembro de 2019, de 0,3 por cento».
«Não faz sentido estarmos numa negociação suplementar, sabendo quais são as intenções do Governo para os trabalhadores da Administração Pública», concluiu Ana Avoila.