Omissões programáticas
A 16 de Julho o PCP apresentou publicamente o seu Programa Eleitoral para as eleições de 6 de Outubro. Para além das muitas páginas de análise da situação nacional e proposta, o Secretário-geral destacou ainda sete compromissos. No entanto, nos principais noticiários das duas estações de televisão que deram visibilidade à iniciativa, um dos destaques foi para uma proposta que nem está escrita no Programa nem foi enunciada por Jerónimo de Sousa: uma taxa sobre depósitos bancários acima dos 100 mil euros.
Uma manipulação grosseira e incompreensível, se avaliada a partir de critérios de rigor – que claramente estiveram ausentes da construção das peças televisivas. Este não é caso virgem: não poucas vezes as notícias são cozinhadas a priori, manipulando depois os factos e acontecimentos para que encaixem na grelha pré-definida. Este foi, no entanto, um episódio particularmente gritante.
Mas houve ainda outros que optaram por uma outra abordagem, com uma dose menor de manipulação compensada pela desvalorização ou mesmo ocultação das propostas eleitorais do PCP. Vamos a exemplos: um dos principais jornais diários reservou tanto ou mais espaço, por aqueles dias, à divulgação de propostas parciais de outros como à iniciativa de apresentação do Programa Eleitoral do PCP; outro reduziu o Programa e as propostas eleitorais do PCP a meia coluna de texto, resumindo-os a quatro medidas.
Mais espantoso foi a abordagem de um outro jornal, dedicado a temas económicos e, portanto, com particular apetência para o tratamento de vários aspectos do Programa Eleitoral do PCP. Depois de no dia anterior à apresentação ter afirmado, em editorial, que o PCP tem um problema de comunicação, esperava-se um tratamento editorial das propostas em áreas como a política fiscal, o investimento público, a dinamização do tecido produtivo e da produção nacional, e dos efeitos dessas medidas na economia nacional – até para clarificar no que consiste o problema por si identificado.
Expectativa defraudada. Na sua edição de 17 de Julho houve espaço para muito, até mesmo para as «propostas eleitorais para o projecto de integração europeia» de um outro partido. Para o Programa Eleitoral do PCP é que não.
O que vimos na última semana, com o brutal apagamento das várias propostas eleitorais avançadas pelo PCP para vários sectores, da política do medicamento ao arrendamento jovem, é outro exemplo. Ou uma outra deturpação, com a apresentação do balanço do trabalho parlamentar do PCP que a generalidade dos órgãos de comunicação social transformaram numa conferência de imprensa sobre hipotéticas soluções políticas saídas das próximas eleições, chegando, no caso de uma televisão, a juntar pedaços de frases distintas de João Oliveira para concluir o contrário do que foi dito.
Fica assim claro qual é o problema de comunicação em presença: o PCP não abdica da sua identidade e da sua intervenção consequente; quem determina o acesso aos meios de comunicação de massas não o perdoa.