Ao ritmo de um Maserati
Comovente, este enlevo que por aí grassa em certa imprensa a propósito dos méritos do sindicalismo dito «independente». É ver os que nunca tendo espaço para relatar as centenas de lutas dos trabalhadores em defesa dos seus direitos se deliciam com certo tipo de acções. Verdadeiras «“start ups” sindicais», os «novos» sindicatos recém criados, de que é exemplo o dos motoristas de matérias perigosas, seriam o alfa e ómega do sindicalismo, estruturas libertas do controlo da CGTP e do PCP, capazes de feitos «radicais» como os que agora se viram. Feitos tão maiores quanto, também pelo que aí se pode ler, estas estruturas precisarem de «romper o cerco mediático». O entusiasmo é tal que nem dão pelo ridículo que cobre quem o escreve. O que suscita dúvidas é, não o silêncio mas sim, a intrigante amplificação mediática de que beneficiam. Não está em causa justas e legitimas reivindicações que deveriam já ter conhecido resposta positiva nem a luta pela sua mais ampla consagração. O que não passa despercebido são as articulações várias em presença para questionar o direito à greve. Ler o que se escreveu entusiasticamente nestes dias por parte de quem não nutre nenhuma consideração pela luta dos trabalhadores é o bastante para suscitar reflexão. Com a poeira a assentar lá se vão desvendando pormenores: seja a de um «sindicato» ter como vice-presidente um jurista que não conduzindo viaturas pesadas se exibe em «Maserati» ou de um dirigente sindical que é proprietário de uma empresa de transportes, seja as que identificam ligações dos dois principais dirigentes sindicais a partidos da direita. Em termos de independência, política ou de classe, estaremos conversados.