Não baixar a guarda
Fracassaram operações que os golpistas consideravam decisivas
Temas para esta coluna não faltam. Penso no folhetim do Brexit, uma seriíssima expressão da crise que mina a União Europeia; na corrida aos armamentos que diariamente anuncia armas mais mortíferas e em que a NATO acaba de retomar o velho projecto de alargar a sua área de intervenção ao Brasil/Atlântico Sul; na saga do povo palestiniano agora confrontado com o monstruoso propósito de Israel de anexar territórios que já ilegalmente ocupa; no quase silenciado morticínio no Iémen às mãos da Arábia Saudita e das sinistras monarquias do Golfo; no anúncio pela administração Trump de medidas contra a Airbus, um claro exemplo das disputas que percorrem o campo imperialista; nas eleições na Índia e sua repercussão na solidez dos BRICS, importantíssima articulação contraposta à hegemonia dos EUA e do FMI/Banco Mundial, já afectada pela deriva reaccionária no Brasil; no levantamento popular no Sudão que já alcançou importantes vitórias ou na situação na Argélia onde se desenvolve um amplo movimento popular que o imperialismo procura instrumentalizar, ou ainda na Líbia a braços com as gravíssimas consequências da agressão da NATO em 2011. Poderíamos continuar com mais uma multidão de exemplos que traduzem a instabilidade e incerteza que o PCP aponta como característica da situação internacional. Uma situação que a manipulação da comunicação social torna ainda mais confusa do que realmente é para ocultar o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo e a agudização da luta de classes, e em particular a agudização do confronto com o imperialismo.
E a Venezuela, perguntam muitos camaradas, porque é que deixou de ser a «notícia» permanente de abertura dos telejornais e das primeiras páginas dos jornais? Por que é que as campanhas sobre a «crise humanitária» e a morte iminente de muitos milhares de crianças baixaram tanto de tom? A razão é simples. Sucessivas operações que os golpistas consideravam decisivas fracassaram. O poder político e militar fiéis à Constituição não abriram as brechas esperadas e consolidou-se o papel da Milícia Bolivariana. O imperialismo viu derrotadas várias tentativas de colher apoio para uma intervenção militar directa e não conseguiu isolar internacionalmente a Venezuela, como comprova o acordo do seu legítimo governo com a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho Internacional para ajuda humanitária. O povo venezuelano, enfrentando embora as duras provações provocadas pela guerra económica e pelas acções de sabotagem terrorista, resiste corajosamente dando provas de apego às realizações do processo bolivariano e de profundos sentimentos patrióticos e anti-imperialistas, como mostraram as grandes manifestações populares que assinalaram no passado dia 13 o aniversário da derrota do golpe de 2002.
Entretanto, a situação económica e social permanece muito difícil e, embora obrigado a rever os seus planos, o imperialismo norte-americano não desistiu de derrubar o Presidente Nicolás Maduro e o governo bolivariano. A parada é muito alta e o objectivo de finalmente atingir Cuba é tentador. Não pode descartar-se a possibilidade de uma perigosíssima aventura. É por isso necessário não baixar a guarda e intensificar a solidariedade com o povo venezuelano.