Made in EUA

Henrique Custódio

Donald Trump está a deteriorar a «figura presidencial» trabalhada com minúcia pelos EUA, que desde o século XX quiseram que o seu Presidente – que comanda a governação do país – fosse respeitado como um «rei sol» à paisana (o original é Luís XIV, o rei que gostava de dizer, de si próprio, que «o Estado sou eu» - «l'État c'est moi»).

Mas as execráveis características pessoais de Trump não concentram todos os malefícios deste cargo e deste regime, proclamado abundantemente como o alfobre da «democracia ocidental».

Anote-se: seja quem for o ocupante da Casa Branca, a política predatória dos EUA é sempre a mesma e em nome de Deus, como declaram na própria moeda... Por isso importa pouco quem desempenhe o cargo, porque a tal política predatória é sempre prosseguida, como o prova a História do país.

Os EUA assumiram um papel cimeiro no planeta apenas no pós-II Guerra Mundial, em que estiveram, pela única vez, no lado certo da História e de onde emergiram não apenas como co-triunfadores militares sobre o nazi-fascismo, mas sobretudo como a potência económica incólume às destruições em sua casa e pronta a assumir a reconstrução da Europa Ocidental do pós-guerra, com tão gigantescas vantagens económicas para os EUA, que os tornaram, até hoje, a cabeça do capitalismo mundial.

Hoje anatemiza-se tanto Trump, que já se diz que «dantes é que era bom».

Não era. Trump não faz esquecer a imbecilidade lorpa de George W. Bush, dois mandatos atrás, a quem os atentados de 2001 às torres gémeas salvaram a presidência e lhe permitiram declarar guerra ao Iraque e ao Afeganistão, nem apaga o reaccionarismo cavernícola de Ronald Reagan, que pôs os «boys de Chicago» a lançar o caos do neoliberalismo e a colocar uma colossal bomba relógio na economia, que rebentou em 2007/8 por todo o mundo capitalista, lançando-o num vórtice de destruição que continua a girar, nos dias de hoje.

Nem os incensados John Kennedy ou Barack Obama se distinguem. O primeiro, ganhou direito ao mito na defesa dos direitos cívicos e na luta contra o racismo dos EUA, o que dá para mal disfarçar que foi ele a lançar a guerra do Vietname, a maior hecatombe e humilhação militares do país. Obama entrou com grandes foguetórios progressistas do «yes, we can!» e a primeira coisa que fez foi dar 700 mil milhões de dólares à banca para a salvar das vigarices cometidas, tendo continuado Guantánamo e as guerras imperialistas e etc. tal como dantes.

Trump é um ambicioso egomaníaco, um mentiroso compulsivo, uma criatura inculta e desprovida de carácter. É um fruto dos EUA que, finalmente, levaram ao poder supremo um bronco formado na sua autocracia dos poderosos mascarada de grande democracia. Só que é tão bronco, que nem põe a máscara.




Mais artigos de: Opinião

Vassalagem

A recente visita do presidente brasileiro aos EUA ficará certamente para os anais como uma das páginas mais negras da diplomacia do Brasil. Por tudo quanto encerra de vexatório e degradante para a dignidade e soberania nacionais, reflectindo-se em toda a América Latina, e no mundo. No beija-mão a Trump e na aquiescência...

«Bónus» a Portugal

Em entrevista ao Público do passado domingo, António Costa afirmou que «o euro foi o maior bónus à competitividade da economia alemã que a Europa lhe poderia ter oferecido». No mesmo sentido, ainda há pouco tempo (Fevereiro de 2019) um estudo do Centro de Política Europeia na Alemanha concluía que a Alemanha foi o País...

As confissões e o poder

Com o aproximar das eleições eles lá se vão confessando. Carlos César, presidente do PS, afirmou em Portalegre que «esta foi uma legislatura trabalhosa» (…) «tivemos de trabalhar muito penosamente com aqueles que nos diziam apoiar». Das duas uma: ou Carlos César andou iludido relativamente ao posicionamento político do...

CTT e ideologias

A realidade incontornável dos CTT é a de uma gestão privada que tem destruído o serviço público de correios e tem alimentado o capital accionista com a venda de património e outras formas de descapitalização da empresa. É apertado pelo peso desta realidade, e por uma crescente reivindicação pública pela renacionalização...