«Bónus» a Portugal

Manuel Rodrigues

Em entrevista ao Público do passado domingo, António Costa afirmou que «o euro foi o maior bónus à competitividade da economia alemã que a Europa lhe poderia ter oferecido».

No mesmo sentido, ainda há pouco tempo (Fevereiro de 2019) um estudo do Centro de Política Europeia na Alemanha concluía que a Alemanha foi o País que mais ganhou com o euro e que Portugal perdeu centenas de milhares de milhões de euros com a entrada na moeda única (chegam ao ponto de referir que, neste período, cada português ficou em média cerca de 40 mil euros mais pobre).

Ora, avivando a memória, o euro foi adoptado como moeda oficial por onze estados da União Europeia (entre os quais, Portugal) a 1 de Janeiro de 1999, muito embora a circulação de notas e moedas só se tivesse vindo a verificar a 1 de Janeiro de 2002.

Em consequência desta decisão, que o PS, PSD e CDS muito democraticamente assumiram nas costas do povo português, Portugal praticamente deixou de crescer e começou a divergir de forma acentuada da média da União Europeia e ainda mais da média mundial (antes crescia em média mais do que as duas).

Como tem sublinhado o PCP, o euro significou aumento do desemprego e da precariedade, contenção dos salários, aumento da exploração, destruição de aparelho produtivo nacional, desinvestimento, subida acentuada da dívida externa, maiores desigualdades sociais, mais pobreza, emigração forçada, envelhecimento da população, desordenamento do território, degradação dos serviços públicos e das funções sociais do Estado.

Mas, c’os diabos – interrogar-se-ão algumas boas almas – será que ninguém ficou a ganhar? Ficou. Claro que ficou! Ganharam os grandes grupos económicos e financeiros europeus, ganhou o grande capital nacional, seu irmão-gémeo, ganharam algumas economias europeias.

O que não diz António Costa, mas o PCP diz, é que é preciso libertar Portugal da submissão ao euro; é que é preciso uma política alternativa patriótica e de esquerda que promova o seu desenvolvimento soberano; é que é preciso votar na CDU.

Esse sim é o grande «bónus» que faz falta a Portugal.




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