Contratação colectiva e horários em destaque na campanha do PCP
DIREITOS A campanha do PCP «Valorizar os trabalhadores. Mais força ao PCP» centrou-se nestes dias na contratação colectiva e nos horários, que ontem, 14, estiveram em debate na Assembleia da República.
O PCP defende a aplicação do que for mais favorável aos trabalhadores
Do debate parlamentar, realizado durante o dia de ontem (portanto, já após o fecho da nossa edição), daremos conta na próxima semana, mas as questões que aí estiveram em avaliação e discussão estiveram presentes no início da semana em diversas acções públicas promovidas pelo PCP em todo o País. Na terça-feira, 13, realizaram-se, entre muitas outras iniciativas, uma concentração no Porto, contactos com trabalhadores da refinaria da Petrogal, em Sines, na empresa têxtil AJ Gonçalves, em Braga, na Autoeuropa e na Dominó, em Condeixa-a-Nova, e uma tribuna pública no centro do Funchal. Nos dias 12 e 13, Jerónimo de Sousa recebeu em audiência, na Assembleia da República, delegações do CESP e da Fiequimetal.
Em causa nestas acções, integradas na campanha mais geral pela valorização dos trabalhadores que o PCP está a levar a cabo em todo o País, estiveram as questões debatidas na Assembleia da República, por agendamento potestativo do grupo parlamentar comunista: a defesa dos direitos de contratação colectiva e a exigência de horários de trabalho dignos.
Livre negociação
No que respeita à primeira questão, o Partido defende o fim da caducidade dos contratos colectivos, instituída em 2003 pelo governo PSD/CDS e agravada em 2009 e 2011 por executivos do PS e, novamente, do PSD/CDS. Para os comunistas, «os contratos não devem caducar», mas serem «substituídos por outros, livremente negociados entre as partes».
No folheto distribuído nas acções desta semana, o PCP considera a caducidade «uma machadada no direito à contratação colectiva» e um «frete ao patronato». Ao longo dos últimos anos, a chantagem em torno da caducidade dos contratos levou muitos trabalhadores a perder direitos que representaram a entrada de muitos milhares de euros no bolso dos patrões. Os contratos colectivos, livremente negociados entre sindicatos e associações patronais, consagram direitos e deveres ao nível dos salários, horários, horas extraordinárias, férias, antiguidade, trabalhos penosos, condições de trabalho e formação profissional.
Ainda no âmbito da contratação colectiva, o PCP insiste na reposição do princípio da aplicação do tratamento mais favorável ao trabalhador. Coerente com o que sempre defendeu, o PCP considera inaceitável que possam ser impostos aos trabalhadores condições de trabalho e direitos ainda mais desfavoráveis do que os consagrados na lei. «Aplicar sempre o que for mais favorável aos trabalhadores é regra básica para defender os seus direitos», garante-se no folheto.
Por horários dignos
O PCP, que como se vê nos cartazes afixados em todo o País defende a redução da jornada laboral para as 35 horas semanais para todos os trabalhadores, levou à Assembleia da República diplomas que procuravam pôr fim à desregulação dos horários e à arbitrariedade que, também a este respeito, reina em muitas empresas.
Para o Partido, e os projectos apresentados vão nesse sentido, «deve ser proibida a desregulação do horário de trabalho ou o alargamento do período do trabalho prestado para além dos limites máximos do período normal de trabalho, bem como durante o descanso do trabalhador». Ou seja, esclarece-se no folheto distribuído, «as empresas não devem poder, através de bancos de horas, prolongar o horário de trabalho normal».
O anterior governo, recorda-se ainda, não só alargou o horário normal de trabalho como impôs a generalização do trabalho não remunerado através de diversos mecanismos: banco de horas, intermitências, adaptabilidade individual e grupal, horários concentrados, tempo de disponibilidade, trabalho a tempo parcial com intermitências. Passou a ser possível a um trabalhador estar 12 horas seguidas ao serviço do patrão, que amealha «mais umas centenas de euros por cada trabalhador que faz horas sem receber» e muitas vezes sem serem «sequer compensadas com horas de descanso».
Esclarecer e mobilizar olhos nos olhos
Entretanto, em centenas de acções de contacto com os trabalhadores junto a empresas e locais de trabalho, o PCP continua a levar por diante a sua campanha. Esta campanha visa fundamentalmente esclarecer os trabalhadores acerca dos seus direitos e envolvê-los na necessária luta pela sua defesa, reposição e conquista.
No distrito de Évora, por exemplo, os comunistas estiveram em empresas como a Tyco, do sector eléctrico, onde se aplica um horário concentrado de 12 horas e se reprime a acção sindical dentro da empresa. Na Gestamp e no centro de contacto da Fidelidade, onde a campanha também passou, os trabalhadores organizam a luta pelos seus direitos. Em Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro, o PCP esteve à porta da Simoldes Plásticos, detida por António Rodrigues, quinto homem mais rico de Portugal, e parte de um grupo com 600 milhões de euros de volume de negócios, 32 empresas em vários países e 5000 trabalhadores. Apesar destes números e do anúncio de avultados investimentos no País, a Simoldes continua a recorrer abusivamente a trabalho precário. Em Odivelas, os comunistas estiveram junto à CGI e à Micau, na zona industrial.
No distrito de Viseu destaca-se a deslocação do deputado Miguel Tiago à PSA/Peugeot-Citröen, em Mangualde, que ouviu dos trabalhadores reclamações contra o assédio moral na linha de produção e contra a discriminação nos prémios face aos colegas espanhóis e franceses. Na reunião com a Comissão de Trabalhadores, o deputado comunista foi posto a par dos brutais ritmos de trabalho impostos, dos malefícios da rotatividade dos turnos e da especificidade do trabalho, que provoca e agrava doenças profissionais.
Das informações que chegaram ao Avante! destaca-se ainda a tribuna pública realizada no Largo do Chafariz, no Funchal, sobre a precariedade, na qual o dirigente regional e membro do Comité Central, Ricardo Lume, garantiu estarem nessa situação mais de 19 mil trabalhadores da região, ou seja, 20 por cento dos madeirenses empregados.