Lavandaria
Depois de o PSD ter dado um mergulho na lixívia mediática em que transformou o seu congresso, no fim-de-semana passado foi a vez do CDS. No caso é o segundo mergulho, já que desde 2016 que Assunção Cristas anda a fingir que não teve nada a ver com o anterior governo, que integrou como ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, com a tutela das Florestas.
Tal como nos últimos dois anos, não houve, por parte da comunicação social dominante, um lembrete do percurso político de Assunção Cristas e dos que com ela partilharam o palco do congresso do CDS. Depois de um ano trágico para as áreas que tutelou há tão pouco tempo – na Agricultura, com a seca e os incêndios, e particularmente nas Florestas –, uma estação de televisão chegou a falar no seu passado como ministra… do Mar.
Coincidentemente ou não, os media nunca questionaram Cristas com as suas responsabilidades enquanto ministra que cozinhou a lei da liberalização do eucalipto, num governo que cortou no orçamento da Protecção Civil, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas ou na isenção de taxas moderadoras para os bombeiros – apesar de, recorrentemente, nos últimos meses, ter ido a Pedrógão Grande condoída.
Mas para além da lavandaria, também houve novidades. Os primeiros candidatos às eleições para o Parlamento Europeu do próximo ano foram anunciados e da lista consta um nome que ganhou destaque noticioso, Pedro Mota Soares, mas o destaque não chegou ao essencial. É que, tal como Cristas, Mota Soares foi ministro do anterior governo, no caso, da Segurança Social, onde também foi pródigo em cortes: foram quatro anos a cortar no valor real das pensões. Se não tivesse sido afastado do executivo, com a acção determinante do PCP, lá estaria ele a executar o corte de 600 milhões nas pensões em pagamento que a coligação PSD/CDS prometeu em campanha eleitoral. E não nos esqueçamos de que os deputados desses partidos foram eleitos nessa lista.
No meio de tanta ensaboadela, os dirigentes do CDS terão pensado que até uma homenagem ao ministro do Ultramar de Salazar que reactivou o Campo de Concentração do Tarrafal passaria. Registe-se a excepção nas páginas do Público, onde foram lembradas as responsabilidades de Adriano Moreira no regime fascista, antes da sua recauchutagem democrática no CDS. Já a ovação ao delegado orgulhoso por descender de um deputado da União Nacional fascista não mereceu qualquer denúncia.
O CDS quis fazer do seu congresso uma lavagem de cara, para a qual teve a preciosa ajuda da comunicação social dominante que se demitiu de cumprir o seu papel e de fazer as perguntas difíceis a que Cristas, Mota Soares e companhia ainda têm que responder ao povo português pelo que fizeram quando tinham responsabilidades governativas. Os media renderam-se de tal forma ao branqueamento que nem a estrondosa «vitória» nas últimas autárquicas por parte do CDS, que justificou o epíteto de «futura primeira-ministra de Portugal» no encerramento do congresso, foram confirmar. Nós ajudamos: tiveram 2,59 por cento dos votos.