Confissão de Tavares

Jorge Cordeiro

Rui Tavares em linha com o seu dogmatismo europeísta e truncagem argumentativa, dedicou-se a zurzir nos marxistas. Assinale-se a assumida confissão de «não marxista». Melhor esta clareza do que andar por aí pendurado em Marx, como alguns fazem por oportunismo, graça ou pedantismo pseudo-esquerdista, mas a negar o que de essencial tem a sua teoria enquanto instrumento de transformação revolucionária da sociedade, de concepção e papel do Estado, de evidenciação da relação de democracia e liberdade com o sistema económico, as relações de produção e a exploração.

Treslendo Engels a propósito da União dos Povos da Europa e ignorando o que Lénine escreveu a propósito da palavra de ordem «Estados Unidos da Europa», Tavares decreta que os marxistas deveriam dar loas ao europeísmo. Tavares navega no escuro ao procurar ver nesse texto sustentação para a sua entrega total aos valores do neoliberalismo e do federalismo da União Europeia. Soubesse ou quisesse ler direito e leria em Engels «sem a sua autonomia e unidades restituídas a cada nação europeia (…) nem a cooperação pacífica e inteligente destas nações para fins comuns poderiam consumar-se». Soubesse Rui Tavares do que fala, não invocasse em vão concepções marxistas, e não ignoraria a lei do desenvolvimento desigual no capitalismo que torna impossível o crescimento uniforme do desenvolvimento económico de diferentes economias e dos diferentes estados.

O dogmatismo de Rui Tavares, inerente à sua cegueira federalista, não lhe permite perceber a vida, confunde sofismas com dialéctica, ignora o carácter condicional e relativo de todas as definições em geral que os obreiros do socialismo cientifico sublinharam. Aqui fica o registo de Lénine, longe de pensar que assentaria hoje que nem uma luva a RT, de que «nas condições económicas do imperialismo,(...) os Estados Unidos da Europa, sob o capitalismo, ou são impossíveis ou são reaccionários».




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