Bater à porta

Henrique Custódio

Descendo uma escada e a passear em claustros como se estivesse na passerelle, Assunção Cristas foi apresentada numa longa peça da SIC (e retransmitida várias vezes) a dizer que pretendia obter mais votos que o PSD em próximas eleições, argumentando que o CDS tinha «provas dadas» de há dois anos para cá – certamente considerando «provas dadas» os périplos por feiras e mercados, onde só lhe tem faltado a boina de Paulo Portas para ser a paladina de agricultores ou de contribuintes – o que calhar.

A SIC é propriedade de Pinto Balsemão, o «militante n.º1» do PSD, e este realce dado a Cristas – no seu eterno registo de madame despachada agora investida em caudilha da direita – não apareceu certamente por acaso. Balsemão quererá participar na balbúrdia fraticida que mais uma vez joeira o PSD, apenas se desconhecendo (o que não importa grande coisa) de que lado do tabuleiro joga (de momento), se de Rio, se de Rio-a-prazo.

Uma coisa é certa: a «independente» televisão SIC está mais uma vez a fazer o que pode para baralhar ainda mais o jogo na jiga-joga em que mergulha sempre o PSD quando não está amesendado no poder. Se quer ou não «estimular» Cristas para «espicaçar» Rio, é enigma que apenas eventualmente interessará à alcoviteirice e à manipulação acarinhadas pela estação de Carnaxide.

Enquanto Rui Rio procura fazer caminho frequentando António Costa (de momento, parece querer apalavrar com o dirigente do PS a repartição dos fundos de Bruxelas e quejandos, sob a invocação dos famosos «consensos alargados»), o grupo parlamentar do PSD (todo escolhido por Passos Coelho) exibe os pergaminhos do partido e transformou a eleição do novo chefe em mais uma das garotadas «laranja»: Fernando Negrão, que se apresentou em lista única, recebeu 35 dos votos que 37 dos deputados lhe haviam antecipadamente garantido, enquanto 32 votaram em branco e 21 tornaram o voto nulo. Paula Teixeira da Cruz reclamou que a liderança de Negrão «não está legitimada», Negrão esqueceu que havia antecipado como vitória ter «metade dos votos mais um» e declarou os votos em branco como de apoio, porque os considera... um «exercício da dúvida».

Por outro lado, a vice-presidente escolhida por Rui Rio, a ex-bastonária da Ordem dos Advogados Elina Fraga, é vaiada pelo congresso do PSD ainda antes de subir à tribuna, estando actualmente sob investigação do Ministério Público por solicitação do actual bastonário.

Assim vão o PSD e a política de direita, assentes em jogadas de bastidores, golpes baixos e «facadas nas costas», como já alguém resumiu, indiferentes aos problemas e aos dramas que se desenrolam no País, com encerramentos epidémicos de empresas e queixas generalizadas dos profissionais de Saúde e do Ensino.

Mas a luta dos trabalhadores bater-lhes-á à porta.

 



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