Parcialidade e superficialidade

Mais de dois anos após a eleições de 2015, a comunicação social dominante continua longe de aceitar os resultados, ou seja, a derrota histórica da coligação PSD/CDS e do projecto que representava. A utilização da palavra «geringonça» para caracterizar a solução política actual, já quase elevada a designação oficial por comentadores e até em texto noticioso, é disso exemplo. Não se trata de uma graça inocente, como defendem alguns, mas uma expressão de propaganda da tese que animou os partidos derrotados, e particularmente o PSD, desde o final de 2015: que ganharam umas eleições que perderam e que deviam estar no governo a concretizar o seu projecto de esmagamento de direitos e venda do País.

Mas esta realidade também se sente frequentemente no tratamento jornalístico de iniciativas do PSD e do CDS. Há poucos dias, um jornalista transformado em analista político defendia, num texto de opinião, o «inquestionável mérito» do anterior governo (numa citação do Presidente da República). No último fim-de-semana, o tema enfiado na agenda pelo CDS (como já o tinha feito, com sucesso, na alteração à lei de financiamento dos partidos) foi a protecção dos idosos. Eis um exemplo claro de como os media dominantes acompanham de forma acrítica as agendas de determinados partidos.

Em causa estava o chumbo de um conjunto de propostas do CDS, pretensamente para proteger os idosos. O objectivo era criminalizar o abandono de pessoas idosas e a possibilidade de estes deserdarem os filhos nesses casos, a par de outras recomendações atabalhoadas para que o Governo legisle sobre matérias em que o CDS podia avançar com propostas.

Perante o chumbo, a presidente do CDS rasgou as vestes porque as «esquerdas unidas» (a versão de «geringonça» de Cristas) não se preocupam em «proteger a população mais vulnerável e mais frágil». E, com esta frase, conseguiu ultrapassar todos os limites para o descaramento.

É que foi um ministro do CDS, actual deputado, que tutelou a Segurança Social entre 2011 e 2015 – os anos em que todos os reformados e pensionistas perderam poder de compra. Querem que reformados que ganham, em média, 400 e poucos euros possam deserdar os filhos para quê, se a sua política é que tornou os reformados e pensionistas em verdadeiros deserdados? Querem criminalizar o abandono enquanto continuam a combater toda e qualquer valorização salarial, num país em que o salário mínimo ficou congelado pelo seu governo nos 485 euros, enquanto as mensalidades de um lar custavam, em média, bem mais de 700 euros? Querem proteger os mesmos idosos a quem impuseram restrições no acesso ao Complemento Solidário para Idosos, que excluiu cerca de 70 mil desta prestação?

Estas eram questões que se impunham quando Assunção Cristas lançou acusações a outros perante os microfones e as câmaras de televisão. É lamentável que nenhum dos presentes tenha confrontado a líder do CDS com o desfasamento entre o seu discurso e a prática do governo que integrou, e que, nos dias seguintes, a tese de Cristas tenha sido abundantemente reproduzida em títulos e rodapés.




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