E se não houver?

João Frazão

Nem com tragédias da dimensão das que ocorreram no País certos intervenientes da política portuguesa acordam para a defesa do interesse, do desenvolvimento e da soberania nacionais, mantendo-se amarrados de pés e mãos à velha cartilha dos compromissos externos.

Repetem que o País tem compromissos de que não pode sair, independentemente das consequências que isso venha a ter.

A malta está mesmo a ver o que querem dizer. Face à evidência de que vão ser precisos centenas de milhões de euros – quer para reparar os danos imediatos causados pelos incêndios, quer para intervir a fundo na floresta e no mundo rural para evitar novas catástrofes, e borrifando-se para a verdade cristalina de que foi a decisão de cortarem nas despesas públicas no passado que obriga hoje a despesas incomensuráveis e para os danos, particularmente em vidas humanas, que não têm sequer preço –, voltam ao mesmo e vêm avisar que, se houver margem orçamental, ela tem de ser para os que não fazem greves ou manifestações públicas em Lisboa.

Dito assim, na versão polida, ou na trauliteira expressão de que os malandros dos privilegiados da função pública, dos pensionistas e dos que têm emprego podem aguentar mais cortes e roubos nos seus rendimentos e direitos, vai tudo dar ao mesmo.

O que estão a pensar é que não se pode tocar no dinheiro que vai para a banca, ou para os juros da dívida, que nem se pode aumentar umas décimas no défice para fazer o que é necessário na floresta portuguesa, no mundo rural e nas funções sociais do Estado no interior, para assegurar as condições de vida de quem tem sido tão massacrado.

O que estão a pensar, quando vêm pedir convergências, é em meter pela janela os cortes em rendimentos e direitos que o PCP nunca aceitou, nem aceitará pela porta.

Se não houver margem orçamental, se o défice se puser à frente das necessidades de desenvolvimento do País e da defesa do bem estar das populações, a única alternativa vai ser mesmo mandar o défice às malvas!

 



Mais artigos de: Opinião

Subordinação e dependência

As conclusões do Conselho Europeu de 19 e 20 de Outubro reflectem o empenho da União Europeia na concretização do plano que gizou com vista ao seu aprofundamento federalista, neoliberal e militarista. A UE, ou quem nela realmente manda, calendarizou um ambicioso conjunto de medidas, a...

A cavalgar

Este ano, a calamidade dos incêndios em Portugal foi tão extensa e grave que forçou o Governo de António Costa a avançar algumas medidas enérgicas a que o próprio Executivo se mostrava alheio, há alguns meses, como é o caso da intervenção...

O PCP esteve, está e estará lá!

No comunicado da reunião do Comité Central de 3 de Outubro de 2017, afirma-se: «Alicerçado na sua identidade e firme na luta pelo ideal e projecto comunistas, o Partido afirma-se na sociedade portuguesa para cumprir o seu papel.»

Corroído e inconformado

Há tentações irreprimíveis. Mesmo quando se pretende cultivar um certo ar de urbanidade de opinião e manter por desvendar aquilo que se é. Será o caso de um conhecido comentador que, saltitando entre o que diz em rádio e o que escreve em papel de jornal, tomando...

Juncker e a Catalunha

Jean-Claude Juncker tem sido elucidativo sobre o optimismo que reina na UE. Em Março, como Trump aplaudiu o brexit e incitou outros países a seguir o exemplo, veio dizer: «se a UE entra em colapso (sic), haverá uma nova guerra nos Balcãs ocidentais» (Independent, 15.03.17). E...