Juncker e a Catalunha

Filipe Diniz

Jean-Claude Juncker tem sido elu­ci­da­tivo sobre o op­ti­mismo que reina na UE. Em Março, como Trump aplaudiu o brexit e in­citou ou­tros países a se­guir o exemplo, veio dizer: «se a UE entra em co­lapso (sic), ha­verá uma nova guerra nos Balcãs oci­den­tais» (In­de­pen­dent, 15.03.17). E agora, a pro­pó­sito da si­tu­ação na Ca­ta­lunha: «a in­de­pen­dência da Ca­ta­lunha cau­saria muito mais [a lot more] caos na UE (sic)». […] Cons­ta­tando uma «frag­men­tação de iden­ti­dades na­ci­o­nais dentro da Eu­ropa», re­ceia que «se a Ca­ta­lunha se tornar in­de­pen­dente, ou­tras re­giões farão o mesmo». E vai ao cerne da questão: o euro «já é su­fi­ci­en­te­mente di­fícil com 17 es­tados. Com muitos mais será im­pos­sível» (Guar­dian, 13.10.17).

Mas não terá esta si­tu­ação raízes na forma como o ca­pital mo­no­po­lista vem há dé­cadas avan­çando com a sua UE à re­velia da von­tade dos povos? Com o facto de se dispor a novos saltos no ca­minho do fe­de­ra­lismo e da cen­tra­li­zação de po­deres na bu­ro­cracia de Bru­xelas? Jul­gará o sr. Juncker que será com me­didas ad­mi­nis­tra­tivas e com re­pressão po­li­cial – como faz Rajoy – que irá lá?

Po­deria talvez con­sultar Lé­nine sobre o pro­cesso de for­mação de estados na­ci­onais, «tí­pico e normal para o pe­ríodo ca­pi­ta­lista» (VILOE, T1, p. 512). Lé­nine es­creve em 1914, e re­fere-se es­pe­ci­fi­ca­mente à época das re­vo­lu­ções de­mo­crá­tico-bur­guesas, «apro­xi­ma­da­mente de 1789 a 1871». Acon­tece que na fase im­pe­ri­a­lista do ca­pi­ta­lismo tais es­tados na­ci­o­nais cons­ti­tuem em muitos as­pectos um en­trave e, como su­cede com a UE, do que se trata é da cri­ação de ver­da­deiros es­tados su­pra­na­ci­o­nais, queiram os povos ou não.

A pro­pó­sito da Ca­ta­lunha, ou­çamos ainda Lé­nine: «Te­o­ri­ca­mente não se pode ga­rantir an­te­ci­pa­da­mente que a se­pa­ração de uma nação de­ter­mi­nada ou a sua si­tu­ação de igual­dade de di­reitos com outra nação fi­na­li­zará a re­vo­lução de­mo­crá­tico-bur­guesa.» (Id. p. 522) Mesmo não ga­ran­tindo nada, cons­titui já uma grande atra­pa­lhação para a classe do­mi­nante. E isso não é de deitar fora.




Mais artigos de: Opinião

Subordinação e dependência

As conclusões do Conselho Europeu de 19 e 20 de Outubro reflectem o empenho da União Europeia na concretização do plano que gizou com vista ao seu aprofundamento federalista, neoliberal e militarista. A UE, ou quem nela realmente manda, calendarizou um ambicioso conjunto de medidas, a...

A cavalgar

Este ano, a calamidade dos incêndios em Portugal foi tão extensa e grave que forçou o Governo de António Costa a avançar algumas medidas enérgicas a que o próprio Executivo se mostrava alheio, há alguns meses, como é o caso da intervenção...

O PCP esteve, está e estará lá!

No co­mu­ni­cado da reu­nião do Co­mité Cen­tral de 3 de Ou­tubro de 2017, afirma-se: «Ali­cer­çado na sua iden­ti­dade e firme na luta pelo ideal e pro­jecto co­mu­nistas, o Par­tido afirma-se na so­ci­e­dade por­tu­guesa para cum­prir o seu papel.»

Corroído e inconformado

Há tentações irreprimíveis. Mesmo quando se pretende cultivar um certo ar de urbanidade de opinião e manter por desvendar aquilo que se é. Será o caso de um conhecido comentador que, saltitando entre o que diz em rádio e o que escreve em papel de jornal, tomando...

E se não houver?

Nem com tragédias da dimensão das que ocorreram no País certos intervenientes da política portuguesa acordam para a defesa do interesse, do desenvolvimento e da soberania nacionais, mantendo-se amarrados de pés e mãos à velha cartilha dos compromissos externos. Repetem...