A prostituição não é opção, é exploração

Fernanda Mateus (Membro da Comissão Política)

A pros­ti­tuição é uma ex­pressão ex­trema de ex­plo­ração e vi­o­lência, um grave aten­tado aos mais ele­men­tares di­reitos e à dig­ni­dade das pes­soas pros­ti­tuídas. Não é uma opção nem para as mu­lheres pros­ti­tuídas, es­cra­vi­zadas nas redes cri­mi­nosas in­ter­na­ci­o­nais de pro­xe­ne­tismo, nem para as que são apri­si­o­nadas por ou­tras formas de ex­plo­ração por parte do pro­xe­ne­tismo.

Em Por­tugal, a pros­ti­tuição não é crime, o pro­xe­ne­tismo sim

LUSA

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Não há uma pros­ti­tuição for­çada, as­so­ciada ao trá­fico de seres hu­manos, em con­tra­ponto à pros­ti­tuição fal­sa­mente de­sig­nada de «vo­lun­tária», por opção das mu­lheres. A ex­plo­ração para a pros­ti­tuição atinge as mu­lheres e cri­anças das classes mais po­bres e vul­ne­rá­veis, como está pa­tente nas redes cri­mi­nosas de trá­fico de mu­lheres para fins se­xuais, no cha­mado «tu­rismo se­xual», nas «acom­pa­nhantes», nos bares de al­terne, nas ruas, entre ou­tros es­paços.

As formas cada vez mais so­fis­ti­cadas uti­li­zadas na ex­plo­ração para a pros­ti­tuição, li­gada ou não ao trá­fico de seres hu­manos, não é dis­so­ciável do apro­fun­da­mento dos me­ca­nismos de ex­plo­ração e vi­o­lência sobre os tra­ba­lha­dores, de uma inau­dita con­cen­tração e cen­tra­li­zação do ca­pital e da ri­queza, da brutal ofen­siva para agravar a ex­plo­ração e o do­mínio do ca­pital fi­nan­ceiro e es­pe­cu­la­tivo sobre a eco­nomia, do ataque às li­ber­dades e di­reitos de­mo­crá­ticos, do brutal agra­va­mento da po­breza e da ex­clusão so­cial.

O trá­fico de seres hu­manos para fins se­xuais ali­menta redes in­ter­na­ci­o­nais de pro­xe­ne­tismo, tor­nando este crime num ne­gócio cada vez mais lu­cra­tivo. Em si­mul­tâneo, crescem e flo­rescem ou­tras formas lu­cra­tivas de ex­plo­ração para a pros­ti­tuição não li­gadas ao trá­fico e que en­volvem ele­vado nú­mero de mu­lheres. Um e ou­tras ex­ploram, vi­o­lentam e mer­can­ti­lizam o corpo, a dig­ni­dade e di­reitos bá­sicos de muitos mi­lhões de mu­lheres e cri­anças. A le­ga­li­zação da ex­plo­ração da pros­ti­tuição não de­fende as mu­lheres pros­ti­tuídas, le­ga­liza a «in­dús­tria do sexo», dá co­ber­tura a ou­tros crimes, como o bran­que­a­mento de ca­pi­tais.

A ex­plo­ração para a pros­ti­tuição é in­dis­so­ciável de uma or­ga­ni­zação so­cial de­ter­mi­nada por re­la­ções de poder do mais forte sobre o mais fraco, das classes do­mi­nantes sobre as ex­plo­radas e dos me­ca­nismos de opressão, ex­plo­ração e vi­o­lência exer­cidos es­pe­ci­fi­ca­mente sobre as mu­lheres das classes tra­ba­lha­doras.

Não à le­ga­li­zação de uma sór­dida ex­plo­ração

Em Por­tugal a pros­ti­tuição não é crime. Quer isto dizer que a pessoa que se pros­titui não é per­se­guida nem cri­mi­na­li­zada, mas sim quem ex­plora a ac­ti­vi­dade da pros­ti­tuição, o pro­xe­ne­tismo. É cres­cente a cum­pli­ci­dade e apoio de forças po­lí­ticas e so­ciais no ob­jec­tivo de di­fusão de con­cep­ções ide­o­ló­gicas as­sentes na su­posta van­tagem e be­ne­fí­cios para as mu­lheres pros­ti­tuídas que ad­vi­riam da al­te­ração deste en­qua­dra­mento legal, tor­nando legal a ex­plo­ração da pros­ti­tuição.

O PCP, com di­versos sec­tores da so­ci­e­dade por­tu­guesa – in­cluindo or­ga­ni­za­ções so­ciais, de­sig­na­da­mente de de­fesa dos di­reitos das mu­lheres –, con­si­deram a pros­ti­tuição não uma opção, mas uma avil­tante ex­plo­ração e vi­o­lência para as mu­lheres pros­ti­tuídas, tanto no plano fí­sico como no psi­co­ló­gico. O seu corpo é trans­for­mado numa «coisa» que é com­prada para ser usada, abu­sada e con­su­mida.

Dizem Não! à le­ga­li­zação da pros­ti­tuição porque tal sig­ni­fi­caria a trans­for­mação de uma ac­ti­vi­dade cri­mi­nosa em ne­gócio legal, trans­for­mando o pro­xe­neta em em­pre­sário; seria le­gi­timar a per­pe­tu­ação dos me­ca­nismos de opressão, ex­plo­ração e vi­o­lência sobre as mu­lheres – não só das pros­ti­tuídas, mas de todas as mu­lheres das classes tra­ba­lha­doras e po­pu­lares –, que as­piram pelo di­reito à sua au­to­nomia pes­soal, pela li­ber­dade de de­ci­direm a sua vida com igual­dade no tra­balho, na fa­mília, na vida so­cial, po­lí­tica e cul­tural, pela eli­mi­nação das di­versas formas de vi­o­lência a que muitas con­ti­nuam su­jeitas.

O Se­mi­nário de amanhã (sex­ta­feira) do Grupo da Es­querda Uni­tária Eu­ro­peia/​Es­querda Verde Nór­dica do Par­la­mento Eu­ropeu e do PCP, será, se­gu­ra­mente, um im­por­tante con­tri­buto para a afir­mação da pros­ti­tuição como uma grave forma de vi­o­lência e ex­plo­ração e para ana­lisar a si­tu­ação na Eu­ropa e
em Por­tugal.

 



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