Respostas de luta contra pressões patronais

INDIGNAÇÃO Atropelar um dirigente sindical, abusar de processos disciplinares e pressionar trabalhadores sozinhos são algumas práticas patronais que nos últimos dias suscitaram respostas firmes, incluindo greves.

A ofensiva é enfrentada com coragem, unidade e organização

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Os relatos mais recentes não preenchem todo o quadro de expedientes encontrados por patrões e capatazes de várias matizes para tentar submeter os trabalhadores a condições de exploração mais graves. Mas ilustram bem a situação e mostram como a coragem, a unidade e a organização são importantes para resistir, lutar e derrotar tal ofensiva.

À porta da Campos & Campos, em Calendário (Vila Nova de Famalicão), decorria a 28 de Julho uma visita do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, para abordar com os trabalhadores daquela fábrica de meias o problema dos salários em atraso. Foi entregue na administração um pedido urgente de reunião e, «em resposta» – como ironizou a União dos Sindicatos do Distrito de Braga, no dia 10 – o administrador, conhecido como antigo piloto de rally, tentou atropelar um dos dirigentes sindicais, que teve de se refugiar numa casa vizinha.
Na passada sexta-feira, dia 11, em solidariedade com os trabalhadores que têm salários por receber e como acto de condenação da tentativa de intimidação, o sindicato e a estrutura distrital da CGTP-IN realizaram uma concentração de dirigentes e activistas, à porta da empresa.
No comunicado aqui distribuído, o sindicato garantiu que vai continuar a acompanhar a situação e admitiu, «em conjunto com os trabalhadores da Campos & Campos, decidir quais devem ser os caminhos da luta em defesa dos salários e dos postos de trabalho».
No local esteve uma delegação do PCP, de que fez parte Carla Cruz. A deputada deu conta das perguntas que dirigiu ao Governo sobre esta empresa.

No centro de contacto do Grupo Brisa, instalado no Taguspark, em Porto Salvo (Oeiras), foi desencadeada «perseguição» aos trabalhadores que participaram nos últimos plenários e aos seus delegados sindicais, acusou o Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, no dia 14. Naquele local de trabalho (atribuído à empresa Mcall Contact Center), no último dos plenários, foi decidido fazer greve, por duas horas, todas as segundas-feiras de Setembro, com uma vigília no dia 19, terça-feira.
Além de acções que o CESP/CGTP-IN repudiou e atribuiu à supervisão do contact center (abusos nas escutas telefónicas e no levantamento de processos disciplinares), o pré-aviso de greve, com data de 9 de Agosto, inclui reivindicações de aumento dos salários, aplicação da tabela salarial e dos direitos do acordo colectivo de trabalho do Grupo Brisa, fim do assédio moral, requalificação das carreiras profissionais, equidade na avaliação de desempenho, cumprimento da legislação no que toca a pausas, horários e férias.
«Coacção e assédio moral são crime», protestou o Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (Sintab/CGTP-IN), ao revelar, no dia 9, que a Marinhave Sociedade Agro-Avícola, em Santo Estêvão (Benavente) voltou a chamar trabalhadores seus associados, que «são fechados numa sala individualmente e só saem de lá após assinatura» de uma carta a declarar que deixam o sindicato.
Uma situação semelhante, relativa à empresa que detém a marca Quinta da Marinha e que se apresenta como o maior produtor de patos da Península Ibérica, tinha sido revelada em Abril. O Sintab, a par da denúncia pública, levou o caso à Autoridade para as Condições do Trabalho.

Na General Cable CelCat (Morelena, Sintra), estão convocadas greves de quatro horas para 23 e 24 de Agosto, exigindo que a empresa dê passos no sentido da valorização dos salários. Mas, como se refere num comunicado do Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas, distribuído na semana passada, a luta é também uma resposta a pressões recentes.
A direcção da CelCat reúne pequenos grupos de trabalhadores e tenta justificar uma «sequência de resultados negativos» com as greves realizadas este ano. O SIESI questiona «qual a justificação que dá para os anos de 2014, 2015 e 2016», quando a direcção impôs actualizações salariais, que nem sequer fizeram face ao aumento do custo de vida. «Não compreendemos como é possível produzir e vender anualmente muito mais e apresentar prejuízos sistemáticos», destacavam os trabalhadores, num abaixo-assinado entregue em Abril, lembrando ainda que a multinacional americana a que pertence a fábrica exibiu seis mil milhões de dólares de lucros em 2016.
Nesse ano, a CelCat teve um aumento de 43 por cento na produção, notando o sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN que um resultado similar já se verifica em 2017.

 



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