Portugal não está condenado à política de cortes
Qualquer «passo» no sentido de libertar o País dos constrangimentos que lhe tolhem o desenvolvimento é uma «necessidade» e, como tal, não pode deixar de ser assinalado.
É necessário elevar as condições de vida do povo
Esta a avaliação feita pelo Secretário-geral do PCP, anteontem, na AR, no debate quinzenal com o chefe do Governo, sobre a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo (PDE), mecanismo que definiu como uma «imposição intolerável e arbitrária» e contra a qual, lembrou, o PCP se bateu, «quantas vezes quase sozinho».
«Estamos a sair de onde nunca devíamos ter entrado», afirmou, salientando que se o «défice assumiu uma dimensão elevada», isso deve-se a uma «política que conduziu à degradação do aparelho produtivo nacional e à regressão económica e da balança comercial», mas também à «transformação de avultados défices de milhões e milhões de euros canalizados do Estado para cobrir negócios ruinosos da banca privada».
Para Jerónimo de Sousa trata-se da confirmação de que afinal o «País não estava condenado à política de cortes e mais cortes e de exploração e empobrecimento sistemático», e que a «reposição de rendimentos e direitos não era o caminho para o desastre que os partidos derrotados em Outubro de 2015 profetizavam».
Os problemas que o País enfrenta, sublinhou, «estão longe de estar resolvidos» e é «necessário o prosseguimento do caminho da reposição de rendimentos e direitos e a elevação das condições de vida do povo».
Respostas por dar
«Temos que reconhecer que os passos são ainda curtos. Que o grave problema do desemprego se mantém a níveis inaceitáveis. Que permanece uma injusta distribuição da riqueza e 2,6 milhões de portugueses estão no limiar da pobreza. Que se mantém um fraco investimento, nas infra-estruturas e no apoio ao desenvolvimento dos sectores produtivos. Que permanecem carências gritantes em serviços públicos e nas funções sociais do Estado», sumariou.
Sobre os serviços públicos, António Costa disse acompanhar o PCP na posição de que é preciso o seu «reforço», «em particular no SNS». Para este ano, revelou, está previsto um aumento de mais 3408 pessoas, entre médicos, enfermeiros e outros profissionais.
Quanto à saída do PDE, interpretou-a como um «passo importante, mas que não resolve a globalidade dos problemas», reiterando a ideia de que é preciso superar os «bloqueios estruturais da nossa economia».
Falando das «relações com a União Europeia, admitiu que «nem sempre são fáceis», mas disse ser «essencial, também na UE, travar este combate».
«Se reparar nas recomendações sobre aumento do salário mínimo nacional, já são muito diferentes de as de há dois anos», referiu o primeiro-ministro, registando o que disse ser o «tom diferente» das instâncias europeias.
«Aquelas recomendações públicas, cuidado... há razões de fundo para nos preocuparmos, independentemente de terem aligeirado o tom. A serem concretizadas, na prática, transformam-se em ameaças particularmente para os direitos dos trabalhadores», replicou o líder comunista.