Verão de lutas
A Fiequimetal/CGTP-IN destacou vários casos de empresas da indústria e energia onde, mesmo com Julho a findar, ocorreram greves e outras acções de luta, com expressão pública, nos últimos dias.
Para defender emprego, direitos e salários a luta não pode ter férias
A Petrogal, a Tesco, a Caetanobus, a Soares da Costa, a Groz-Beckert e a Randstad (call-centers da EDP) são referidas numa nota publicada dia 22, remetendo para jornadas ocorridas desde a semana anterior, algumas das quais com início há bem mais tempo e com novas datas já decididas ainda para este mês. «Pela defesa dos postos de trabalho, por emprego com direitos e contra a precariedade, por aumentos salariais justos, os trabalhadores destas empresas, organizados nos seus sindicatos da Fiequimetal/CGTP-IN, mostram-se unidos e determinados e não dão férias à luta», afirma a Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas.
Nesse mesmo dia, a direcção regional do Porto do PCP assinalou as lutas ocorridas no distrito e informou que em todas elas (na Soares da Costa, na CaetanoBus, na Petrogal e na Groz-Beckert) estiveram presentes delegações do Partido, expressando apoio e solidariedade e realçando «a importância da resistência, da unidade e da luta dos trabalhadores para a defesa do trabalho com direitos».
Pelo pagamento dos salários em atraso, os trabalhadores da Soares da Costa concentraram-se, no dia 20, quarta-feira, frente à sede da construtora, em Vila Nova de Gaia. No dia 15, tinham realizado um protesto no Porto, junto à obra do Hotel Monumental, na Avenida dos Aliados. Esta segunda-feira, dia 25, de manhã, desfilaram desde a Casa da Música até à delegação da Autoridade para as Condições do Trabalho, na Boavista, onde reclamaram intervenção imediata do Ministério do Trabalho.
Os trabalhadores «vivem num sofrimento muito grande» e «continuam dispostos a prosseguir a luta», disse à Agência Lusa um dirigente da Comissão de Trabalhadores e do Sindicato da Construção de Viana do Castelo e Norte (da Feviccom/CGTP-IN, que com o SITE Norte, da Fiequimetal, tem organizado a luta). José Martins revelou que «foi já apresentada uma proposta para uma manifestação junto à Assembleia da República, porque não conseguem sobreviver», havendo atrasos que chegam a oito meses de salários.
Na Avenida da Liberdade, a marginal de Leça da Palmeira, um grupo de activistas sindicais do SITE Norte e do Sicop esteve, no dia 22, sexta-feira, durante a hora de almoço, junto ao farol, a denunciar à população o «terrorismo laboral» na Petrogal, ali ao lado, porque a empresa lançou «um ataque desenfreado aos direitos» e à contratação colectiva, como se referia num folheto distribuído aos automobilistas. Iniciada desde a privatização, a ofensiva acentuou-se desde o último trimestre de 2015, merecendo firme resposta de luta, apesar das limitações do direito à greve e das pressões para impor «acordos» com estruturas pouco representativas. Para os sindicatos, isto é inaceitável, face aos muitos milhões de euros de lucro que a empresa arrecada à custa dos seus trabalhadores e dos consumidores.
Em Vila Nova de Gaia, no dia 20, os trabalhadores da Caetanobus voltaram a fazer greve, por duas horas, concentraram-se frente à sede da empresa e do Grupo Salvador Caetano e desfilaram na Avenida Vasco da Gama. A luta, contra a discriminação salarial e por aumentos salariais para todos, ficou com nova etapa marcada para ontem, dia 27. Com salários pouco acima do mínimo nacional, muitos trabalhadores não foram aumentados este ano.
A uma dezena de quilómetros dali, ainda no mesmo concelho, os trabalhadores da Groz-Beckert mantêm-se em luta por aumentos salariais e outras reivindicações e pelo cumprimento do contrato colectivo de trabalho. Em greve, os trabalhadores concentraram-se à porta da fábrica de agulhas para a indústria têxtil, na sexta-feira, dia 15, e de novo no dia 22. Em Junho foi aprovada a continuação de uma hora de greve, todas as sextas-feiras, até ao fim de Agosto. A evolução da situação e eventuais novas acções serão analisadas depois, em plenário.
Confrontados com a perspectiva de perda de centenas de postos de trabalho, os trabalhadores da Acciona e da Logiters, em Palmela, tinham decidido fazer greve no dia 21. A paralisação acabou por ser evitada, com um compromisso assumido pela DHL, a empresa que venceu o concurso para adjudicação do serviço antes realizado por aquelas duas fornecedoras da VW Autoeuropa.
Campanha
na Tesco
No portão principal da Tesco, em Ribeirão, Vila Nova de Famalicão, o SITE Norte realizou no dia 20, quarta-feira, uma iniciativa de protesto contra o elevado índice de precariedade. Citando dados da própria empresa de componentes automóveis, o sindicato salientou que mais de 65 por cento dos trabalhadores estão com vínculos precários (235, de um total de 354).
Esta acção, em que participou o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, abriu no distrito de Braga a campanha nacional contra a precariedade, lançada pela CGTP-IN no seu 13.º Congresso, para decorrer até 2020. Solidário com a luta, esteve também presente um trabalhador que estava com vínculo temporário e, por acção do sindicato, passou recentemente a efectivo.
A Intersindical insiste que, para ocupar postos de trabalho em funções permanentes, os trabalhadores devem ter contratos efectivos.
Greve acusa EDP e Randstad
Os trabalhadores da Randstad colocados nos call-centers da EDP iniciaram a greve de 48 horas, na segunda-feira, com um nível de adesão de 80 a 85 por cento e com uma concentração frente à sede da multinacional de trabalho temporário, expressando publicamente a indignação gerada pelo aumento salarial de um euro por mês e denunciando o «outsourcing» como expediente para embaratecer os custos do trabalho.
Como referiu o Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas, os cerca de 1500 trabalhadores que asseguram para a EDP o atendimento telefónico, a facturação, a resposta a reclamações e avarias, entre outros serviços, não têm aumentos salariais desde 2012 (excepto os que foram abrangidos pelo aumento do salário mínimo nacional, que representam cerca de 25 por cento). Um longo processo negocial foi, na prática, encerrado este mês pela empresa que, quando ganhou por mais cinco anos o contrato com a EDP para este serviço, disse que ia aumentar salários um euro por mês.
Em plenários realizados no dia 18, nos call-centers no Parque das Nações e na Quinta do Lambert, os trabalhadores decidiram realizar estes dois dias de greve (tinham já paralisado a 20 e 21 de Junho), por aumentos salariais de 30 euros (um euro por dia), melhores condições de trabalho e a passagem aos quadros da empresa utilizadora, a EDP.
Na concentração, que decorreu durante a manhã, na Avenida da República, em Lisboa, interveio o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos. A deputada Rita Rato transmitiu aos trabalhadores o apoio e incentivo do PCP ao reforço da unidade e ao prosseguimento da luta.
O SIESI considera que a prestação de serviços, atribuída pela EDP a empresas fornecedoras de mão-de-obra, é um expediente para manter a precariedade e pagar salários mais baixos. O sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN afirma que há trabalhadores que estão, em situação precária, a trabalhar para a EDP há mais de 20 anos. Alterações legislativas para responder a este problema foram já abordadas em audiências com grupos parlamentares.