Guerra no Iémen

Milhares contra agressão

A capital do Iémen foi palco de uma gigantesca manifestação contra a intervenção militar saudita quando se cumpre um ano sobre a agressão.

Quase nove mil civis foram mortos pelos bombardeamentos sauditas

O protesto em defesa da paz realizado em Sanaa, dia 26, foi convocado pelo partido do ex-presidente Ali Saleh, que aproveitou a ocasião para fazer uma rara aparição pública nos últimos meses. Ao seu lado estiveram altos responsáveis das milícias hutí, entre as quais o seu líder, que acusam a coligação liderada pela Arábia Saudita de promover um genocídio no país.

De acordo com as Nações Unidas, a guerra no Iémen já provocou 6300 mortos, mais de metade (3218) civis. A direcção «rebelde», por seu lado, calcula em quase nove mil o número de vítimas civis em resultado da agressão saudita, entre as quais cerca de 2800 crianças e mulheres. Dezenas de instalações hospitalares, incluindo algumas operadas por organizações humanitárias internacionais, foram atingidas pelos bombardeamento da aviação de Riade.

Caças bombardeiros sauditas sobrevoaram a manifestação de sábado, sem no entanto conseguirem desmobilizar a multidão.

Quando se cumpre um ano sobre o início da campanha bélica no território, o presidente Abd Hadi - reconhecido pela Arábia Saudita, onde se refugiou aquando da tomada da capital pelos que o contestam, considerou, por seu lado, que o país «está muito mais seguro» desde o início da intervenção armada.

Dia 25, três atentados suicidas atribuídos ao autoproclamado Estado Islâmico fizeram 22 mortos no Iémen. Dois dias antes, os EUA afirmaram ter liquidado dezenas de combatentes e destruído um campo de treino supostamente instalado no território pela Al-Qaida na Península Arábica. Tais acontecimentos não parecem perturbar a apreciação de Hadi, que a partir de Riade fez ainda saber que «será concluída uma marcha triunfal para libertar todo o país».

De paz e não de guerra, falou, ao invés, Ali Saleh, que na iniciativa de massas ocorrida em Sanaa garantiu que «as nossas mãos continuam estendidas para uma paz que traga justiça à população iemenita (…), a paz que vai estabelecer um futuro seguro para o nosso povo e para a nossa pátria», disse, citado pela Lusa.

O ex-presidente defende «um diálogo directo com a Arábia Saudita» mas rejeita liminarmente deixar o poder a Hadi, que qualifica de «traidor». Não é claro se o recomeço das negociações de paz agendadas para o dia 18 de Abril, no Koweit, sob a égide das Nações Unidas, será nos moldes propostos por Ali Saleh. Aparentemente seguro é que ambas as partes em conflito se vão abster de combates a partir do dia 10 do próximo mês.

Ao fim de 12 meses de guerra, todas as carências no Iémen foram agudizadas. Cerca de 80 por cento dos iemenitas (20 milhões de pessoas) dependem total ou parcialmente de ajuda humanitária. Para além dos já referidos hospitais, os bombardeamentos sauditas também destruíram cerca de mil escolas, 25 mesquitas e 40 monumentos, alguns classificados pela Unesco como Património Mundial. O conjunto das infra-estruturas – saneamento básico, energia, entre outras –, encontra-se severamente afectado.

 



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