Saara Ocidental reclama solução
Familiares dos presos políticos saaráuis em greve de fome desde 1 de Março agendaram, para anteontem à tarde, um protesto frente ao Ministério da Justiça marroquino para alertar para a situação em que se encontram os 13 encarcerados. Na sexta-feira, 25, familiares e amigos dos detidos, alvo de processo após o desmantelamento violento do acampamento de Gdaim Izik, em Novembro de 2010, já se haviam manifestado. No dia 19, um desfile popular convocado com o mesmo propósito foi reprimido com violência na capital do Saara Ocidental ocupado, El Aiun. Dois dias antes, na mesma cidade, uma manifestação de jovens desempregados também foi dispersa com recurso à violência.
A iniciativa dos presos ocorre quando o reino de Marrocos impossibilita o exercício da Missão das Nações Unidas (Minurso), tendo como últimos episódios o encerramento do gabinete de ligação militar em Dakhla e a expulsão da maioria dos peritos civis internacionais. O vice-porta-voz da ONU, Farhan Haq, considerou que sem uma efectiva missão de paz é impossível cumprir o mandato que lhe está atribuído no território e apelou à intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CS).
Acrescem o precedente da expulsão dos mandatados pela ONU (que a ser seguido por outros países poderia ocorrer sempre que estes se tornem incómodos, lembrou Haq), e, por outro lado, o risco de eclosão de mais graves conflitos entre ocupantes e ocupados, alertou o mesmo responsável.
A Frente Polisário, por seu lado, advertiu para o perigo de uma escalada militar e apelou ao CS para que ordene a Marrocos «que recue na sua decisão e aproveite para convocar as partes à mesa das negociações para ajustar as modalidades de um referendo [sobre a autodeterminação do Saara Ocidental]. Até ao momento, o CS das Nações Unidas não foi capaz de adoptar uma posição conjunta nos termos reclamados pela Polisário, pelas autoridades da República Árabe Saaráui Democrática (RASD) e pelos responsáveis das Nações Unidas.
A tensão entre o governo marroquino e a ONU foi desencadeada a propósito da visita do secretário-geral da Organização aos acampamentos de refugidos saaráuis na Argélia, bem como a zonas libertadas da RASD, no início do mês de Março, tendo sido recebido por milhares de pessoas que reclamaram a independência.
Ban-Ki-moon aproveitou a deslocação para qualificar a situação do Saara Ocidental de ocupação, apelou a Marrocos para que aplique as resoluções das Nações Unidas permitindo o fim negociado do conflito, e expressou-se chocado com a tragédia do povo saaráui, que considerou inaceitável.
Em resposta, o governo de Marrocos promoveu uma manifestação de insulto a Ban Ki-moon, em Rabat, levando ao cancelamento da visita que este previa fazer ao Saara Ocidental ocupado.