Desafio crucial em Cabo Verde
Em Cabo Verde, o MpD (Movimento para a Democracia), de direita, ganhou as recentes eleições legislativas e vai governar nos próximos cinco anos.
O PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde), do primeiro-ministro José Maria Neves, que governou durante três legislaturas, passa à oposição.
O MpD venceu em todas as ilhas, obteve 54 por cento dos votos e elegeu 40 deputados, de um total de 72 do parlamento cabo-verdiano. O PAICV, com 38 por cento dos votos, assegurou 29 assentos e a UCID (União Cabo-verdiana Independente e Democrática) conquistou três mandatos, mais um do que nas anteriores eleições, todos pelo círculo de S. Vicente. Os três outros partidos concorrentes obtiveram no conjunto 0,5 por cento da votação e não elegeram qualquer representante. A taxa de abstenção subiu para 34 por cento, num universo de 350 mil eleitores inscritos.
A líder do PAICV desde finais de 2014, Janira Hopffer Almada, declarou que «respeita o veredicto do povo», garantiu que fará uma «oposição construtiva» e anunciou que a direcção do partido analisará em breve os resultados eleitorais.
O presidente do MpD, Ulisses Correia e Silva, um gestor de 54 anos, será o próximo primeiro-ministro e tomará posse em Abril. Antigo secretário de Estado e ministro das Finanças de governos dos anos 90 e autarca da Praia até há poucos meses, promete fazer crescer a economia sete por cento ao ano, criar 45 mil postos de trabalho durante a legislatura, alargar o ensino obrigatório até ao 12.º ano, tornar o Estado «mais eficiente e menos gastador».
Já depois das eleições, numa entrevista à televisão estatal, citada pelo Expresso das Ilhas, o novo chefe do governo explicou que pretende «criar todas as condições para um bom ambiente de negócios, para estimular o investimento privado interno e atrair o investimento externo, para termos impostos baixos». Para concretizar tais objectivos, conta com a ajuda divina: «Peço a Deus todos os dias para não ser atingido pela doença do poder, porque às vezes o poder adoece as pessoas. Ter os pés no chão, saber que estou a prestar um serviço público ao meu país, que eu vou governar para todos os cabo-verdianos, que eu vou governar com sentido de integração, de coesão e vou criar todas as condições para que os cabo-verdianos sejam realmente os actores e beneficiários do desenvolvimento».
Embora tenham apresentado programas eleitorais com poucas diferenças, o PAICV está filiado na Internacional Socialista e o MpD na Internacional da Democracia do Centro (IDC), associada ao Partido Popular Europeu, da democracia cristã, e que em África integra partidos como a Unita, de Angola, a Renamo, de Moçambique, e a ADI, no poder em S. Tomé e Príncipe.
Três eleições em 2016
Os Estados Unidos, onde vivem milhares de cabo-verdianos, saudaram as «bem-sucedidas eleições legislativas de 20 de Março, que foram uma vez mais livres e justas». As eleições e a mudança de poder «reafirmam a posição de Cabo Verde como um modelo de democracia em África», lê-se numa nota de imprensa do Departamento de Estado.
Washington, que mantém boas relações com a Praia, manifestou vontade de «prosseguir a parceria com Cabo Verde para fortalecer a governação, promover o crescimento económico e o desenvolvimento e estabelecer uma cooperação duradoura em matéria de segurança regional».
Também o presidente da República de Cabo Verde felicitou Ulisses Silva. «Venceu a democracia cabo-verdiana. Parabéns aos vencedores. Honra aos vencidos! A democracia continuou a funcionar e triunfou», escreveu nas redes sociais.
Jorge Carlos Fonseca, eleito em 2011 com o apoio do MpD, deverá apresentar-se a um segundo quinquénio, nas eleições presidenciais previstas para o final deste ano.
O PAICV ainda não escolheu candidato, mas a imprensa cabo-verdiana tem admitido a possibilidade de José Maria Neves entrar na corrida – o que o ex-líder do partido e primeiro-ministro cessante ainda não confirmou.
Antes das presidenciais, haverá eleições autárquicas, já que o novo governo deverá marcá-las para o Verão e fazer o movimento que o sustenta beneficiar da dinâmica de vitória conseguida nas legislativas. Neste momento, o MpD e os seus aliados locais controlam 14 municípios e o PAICV tem maioria em oito câmaras.
As eleições de 2016 constituem, assim, um desafio crucial para o PAICV, herdeiro do legado histórico da luta de libertação nacional na Guiné-Bissau e em Cabo Verde dirigida por Amílcar Cabral. E que governou com reconhecido êxito um total de 30 dos 40 anos do Cabo Verde independente, fruto dessa luta.