Bandeiras evocadas no Barreiro
A Comissão Concelhia do Barreiro do PCP promoveu, na tarde de sábado, 19, nas oficinas da EMEF, uma evocação da jornada de agitação e luta ocorrida no concelho em 1935. A sessão realizada na nave industrial, na qual participaram mais de quatro dezenas de pessoas, revestiu-se de forte simbolismo e conteúdo. Nenhum outro local poderia, de facto, expressar a raiz de classe dos heróis daquela jornada e da sua heróica organização – o PCP.
Simbólico foi igualmente o apontamento cultural que abriu a iniciativa, com Valu, Fernando Matias e Alberto Cruz a interpretarem as músicas «Tarrafal», «Segredo» [sobre a fuga do Forte de Peniche] e «Erguem-se as bandeiras». Na primeira, foram lidos os nomes de todos os antifascistas assassinados no Campo da Morte Lenta para onde o fascismo português deportava quem se lhe opunha. Entre os enviados para o degredo estavam Acácio Costa, que Manuela Bernardino, mais adiante no encerramento da iniciativa, considerou o quadro mais destacado do Partido no Barreiro à época; e Bento Gonçalves, então Secretário-geral do PCP e cujo papel na semana de luta de 28 de Fevereiro a 2 de Março de 1935 é hoje conhecido.
Na mesa da iniciativa estiveram Manuel Revez, militante comunista desde 1941 e ex-operário da CUF que testemunhou a permanente intervenção e organização do Partido, particularmente junto da classe operária e dos trabalhadores; Frederico Pereira e Pedro Silva, da direcção concelhia, Armando Morais, do Secretariado da DORS, e Manuela Bernardino, do Secretariado do Comité Central.
Coube no entanto à historiadora Rosalina Carona a primeira intervenção, destacando não apenas o processo que está na origem da exposição – que decorre da descoberta no Arquivo Nacional da Torre do Tombo de três das oito bandeiras içadas pelos operários em vários locais no Barreiro, bem como do acervo documental do processo instaurado a 35 militantes comunistas e antifascistas.
A historiadora realçou a audácia dos elementos mais conscientes entre a vanguarda revolucionária barreirense, no quadro da resistência ao fascismo que se consolidava em Portugal e noutros países da Europa, e da afirmação da classe operária e da influência das suas organizações nas empresas e locais de trabalho, designadamente o PCP e a Federação das Juventudes Comunistas, assim como a então recém formada Comissão Intersindical (CIS).
Futuro
Estes aspectos foram ainda abordados na intervenção final por Manuela Bernardino, que além do mais salientou que a acção «teve uma direcção política» e que o seu impacto foi grande e frutífero, contribuindo para que o Barreiro passasse a ser conhecido como «a vila vermelha».
«Que ensinamentos podemos hoje tirar da jornada de agitação e propaganda de 28 de Fevereiro de 1935?», questionou. Antes, na sua intervenção, Filipe Marques, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, já havia lembrado que a jornada de há 80 anos «remete-nos para o papel fundamental que a luta de classes desempenha na transformação da sociedade».
Manuela Bernardino, por seu lado, acrescentou que fica demonstrado «que o Partido, quando organizado e enraizado nas massas pode desenvolver grandes acções, mesmo em condições muito difíceis, desde que elas correspondam aos anseios e aspirações dos trabalhadores». Por isso, estas são «bandeiras vermelhas de ontem, de hoje e do futuro, a bandeira da emancipação social dos trabalhadores», concluiu.