Fim ao crime nos comboios
«O fim desta política criminosa» é exigido pela Comissão de Trabalhadores da CP, no número de Dezembro do seu boletim «À Tabela», onde reclama ainda a saída de «patrões e equipa de Manuel Queiró».
Mudança de política exige decisões concretas e urgentes
Na última edição de 2015, a CT da CP recorda que «visão estratégica de governantes e gestores ideologicamente alinhados com o capital tem afundado o sector ferroviário». São imputadas especiais responsabilidades ao governo PSD/CDS (com Sérgio Monteiro como secretário de Estado dos Transportes e Manuel Queiró à frente da administração da CP).
No boletim da CT são apresentados números que evidenciam os efeitos da redução de pessoal, do desinvestimento na ferrovia, do encerramento de linhas e serviços:
– em 1996, último ano em que a CP tinha a totalidade da infra-estrutura e a exploração do serviço, a empresa empregava 13 624 trabalhadores, transportava 177 milhões de passageiros e 7,9 milhões de toneladas de carga; tinha um resultado líquido negativo de 360 milhões de euros e recebia 102,5 milhões de euros de indemnizações compensatórias;
– em 2013, as quatro empresas que resultaram do desmembramento da CP (CP, EMEF, CP Carga e Refer) empregavam 6 039 trabalhadores (menos 55 por cento), transportavam menos 70 milhões de passageiros (menos 40 por cento); os seus défices somavam 260 milhões de euros e a dívida total ascendia a 10 969 milhões de euros.
A fusão da Refer com a Estradas de Portugal, formalizada a 1 de Junho de 2015 para constituir a Infra-estruturas de Portugal (IP), «terá por consequência retirar à CP a exploração e concessões de serviço público», refere ainda a CT.
Para a Comissão de Trabalhadores, «parar a fúria privatizadora e reverter todo o processo é a única via de futuro», ou seja, «todas as empresas ferroviárias devem voltar “à barriga da mãe”, à CP tal como a conhecemos no passado, empresa una e a prestar serviço público de qualidade».
A mudança de rumo defendida pela CT da CP traduz-se em medidas concretas de «defesa do sector e do desenvolvimento do País», nomeadamente:
– contratação imediata de trabalhadores dos sectores operacionais para todas as empresas do Grupo CP;
– investimento na aquisição de novo material circulante para a Linha de Cascais e de material diesel para o serviço regional (que deve ter conversão expedita para o modo eléctrico);
– aprovisionamentos de materiais e equipamentos necessários à manutenção e conservação de locomotivas, carruagens e vagões;
– realização urgente das intervenções de manutenção e reparação que têm sido adiadas;
– reintegração no serviço comercial da totalidade dos parques de material circulante;
– fim dos comboios parados como armazéns de peças;
– reintegração da EMEF na CP, para maior transparência na relação, coincidência de interesses na acção e uma avultada poupança directa e imediata;
– internalização de tarefas que hoje estão subcontratadas (como a remoção de graffiti e a pintura de material circulante);
– reactivação de serviços encerrados, reforço da oferta e redução de tarifas, para aumentar o número de passageiros e a abrangência do serviço.
De novo
as locomotivas
A CT retoma a denúncia da capitalização da CP Carga, com a transferência de 59 locomotivas que pertencem à CP e que, desde a criação da CP Carga, foram usadas em regime de aluguer (como noticiámos na edição de 12 de Novembro). Subavaliadas em 116 milhões de euros, passam para uma empresa vendida à MSC Rail por dois milhões de euros; esta ganha ainda peças sobressalentes (12 milhões de euros) e equipamentos instalados (oito milhões de euros), bem como um perdão de dívidas à CP e à Refer no valor de 70 milhões de euros. Fica com direito a despedir dez por cento do pessoal da CP Carga e poderá acabar com o serviço ferroviário de transporte de carga nas linhas do Minho, do Douro, do Algarve e do Oeste, mas também poderá passar a cobrar taxas por operações de manobra.
A algumas locomotivas foi atribuído valor inferior ao que teriam se fossem abatidas para sucata. No negócio secreto com a MSC Rail, o governo PSD/CDS e a administração da CP não só não as abateram (encaixando um valor superior ao da sua avaliação), como foram acrescentar-lhes valor. Como afirma a CT, «já depois da data da avaliação» a CP fez revisão a duas dessas locomotivas e gastou 270 mil euros numa máquina da série 1400 , avaliada em 16 615 euros, e 500 mil euros numa da série 1900 , avaliada em 30 mil euros.
Isto é que é despesismo
No boletim «À Tabela» são apontados alguns exemplos do despesismo, tantas vezes invocado com falsas razões para atacar as empresas públicas e os trabalhadores:
-
Despesismo é a CP pagar 200 milhões de euros de juros à banca num só ano e dizer que não tem 160 milhões de euros para comprar comboios para Cascais ou 50 milhões de euros para comboios regionais;
-
Despesismo foi o aumento das tarifas, na ordem dos 20 por cento, ter afastado do transporte ferroviário 18 por cento dos passageiros;
-
Despesismo é a CP dar centenas de milhões de euros, com o pretexto de vender a CP Carga por dois milhões de euros, enquanto chora lágrimas de crocodilo por não poder pagar os variáveis na íntegra aos trabalhadores;
-
Despesismo é a CP pagar (mal) trabalho extraordinário, quando com o mesmo valor poderia dar emprego com direitos a centenas de trabalhadores;
-
Despesismo é a administração da CP estar apressadamente a vender a sede da empresa, a poucos dias do final do mandato;
-
Despesismo é haver dinheiro para a Linha de Cascais e só ser aplicado na condição de esta ser retirada à CP e transformada numa PPP da Infra-estruturas de Portugal.