Almofadinhas
Perante a constatação insofismável de que os «cofres cheios» afinal foram praticamente esvaziados nos últimos meses da governação PSD/CDS, e de que a tão badalada «almofada» que havia de amparar as contas públicas em caso de necessidade não passa de esquelético tapete que nem chega para tapar buracos quanto mais para proteger seja o que for, eis que da toca saltaram os cães de fila da direita debitando alarvidades capazes de fazer corar um morto.
Na impossibilidade de explicar preto no branco como é que a «almofada» se escafedeu como areia fina entre os dedos da Maria Luís Albuquerque, um exército de verdadeiros almofadinhas desdobra-se em declarações para convencer o Zé povinho de que basta «não estragar» o que fez o anterior Executivo para que tudo dê certo e a meta do défice se cumpra. Dir-se-ia que o País devia manter-se na situação de quem faz uma radiografia: não mexe, não respira... pode respirar em 2016 e talvez o défice bata certo. Mexeu? Errou. E de quem é a culpa? Do novo Governo, certamente, que começou a abrir gavetas e a folhear dossiers, a fazer contas de somar e a descobrir contas de sumir.
A nova coqueluche destes almofadinhas parece ser Miguel Morgado, o ex-assessor político de Passos Coelho que é agora uma das estrelas da bancada social-democrata. Para este professor de Ciência Política, segundo reza o currículo, Passos Coelho é o «primeiro-ministro escolhido pelos portugueses» que foi vítima da «fraude perpetrada pelo líder do PS», o qual diz não conhecer a «ponto de perceber quais são as suas convicções», o que não o impede de classificar Costa como sendo um homem sem «uma cultura política, económica ou literária particular» que só pode julgar (?) pela «conduta desde que assumiu funções políticas nacionais no Outono de 2014». A pesporrência – que o mesmo é dizer arrogância, pedantismo, prosápia, vaidade – tem coisas destas: ignora de uma penada o facto de o actual primeiro-ministro ter no seu percurso, para o bem e para o mal, cargos como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, ministro dos Assuntos Parlamentares, ministro da Justiça, ministro de Estado e da Administração Interna, presidente da Câmara de Lisboa. Convenhamos que tanta ignorância – ou pura má-fé – é pouco recomendável num professor, mais a mais com pretensões a político.