Cimeira sindical da Administração Pública

Frente Comum mantém a luta

Os trabalhadores da Administração Pública contribuíram para a nova correlação de forças no Parlamento e vão continuar a lutar, assegurou a Frente Comum de Sindicatos, depois da cimeira que aprovou as reivindicações para 2016.

Urge parar a reconfiguração do Estado e cumprir a Constituição

Image 19242

Reunidos no dia 22, quinta-feira, em Lisboa, dirigentes das três dezenas de organizações que integram a estrutura sindical com maior representatividade nos diversos sectores da Administração Pública aprovaram a proposta reivindicativa comum para 2016, cujas linhas gerais tinham sido já apresentadas a 9 de Setembro.
Por unanimidade, foi também aprovada uma resolução onde são apontadas «medidas imediatas», insistindo que «nós, os trabalhadores da Administração Pública, ao reivindicarmos melhores condições de trabalho, a valorização das condições de exercício da nossa profissão e a dignificação profissional, defendemos, simultaneamente, os direitos de todos os cidadãos».
Sublinha-se, no documento, divulgado nessa tarde em conferência de imprensa, que «o respeito e o cumprimento da Constituição da República Portuguesa, nomeadamente através da efectivação dos direitos sociais, económicos e culturais, é factor determinante e central para a existência de uma Administração Pública de qualidade, ao serviço das populações e do País».
Esta afirmação marca o contraste com as «nefastas políticas de austeridade dos sucessivos governos», nas últimas décadas, pelas quais os trabalhadores da Administração Pública «têm sido dos mais atingidos». Com base no «memorando» da troika ou devido às políticas desenvolvidas antes de 2011, recaíram sobre os trabalhadores muitas das consequências devastadoras das medidas que foram impostas e que tiveram como traço comum «o desinvestimento nos serviços públicos e o seu consequente desmantelamento, com vista à prossecução do objectivo central – a reconfiguração do Estado, incluindo a destruição e privatização das suas funções sociais e dos serviços públicos».

Exigir e mudar

A 4 de Outubro, «o povo português pronunciou-se, de forma inequívoca, nas urnas contra a política da direita levada a cabo por PSD/CDS» e na Assembleia da República existe agora «uma maioria que pode ter força suficiente para viabilizar uma mudança na política do País». A Frente Comum nota que «esta nova correlação de forças contou com o contributo dos trabalhadores, designadamente os da Administração Pública que, com a sua luta continuada e toda a combatividade demonstrada, nos últimos quatro anos, impuseram várias derrotas ao Governo PSD/CDS-PP».
Na resolução afirma-se que, neste novo quadro, «os trabalhadores da Administração Pública vão continuar a lutar por objectivos que consideram justos» e vão «exigir o cumprimento de promessas eleitorais que vão ao encontro desses objectivos e dos compromissos assumidos pelos partidos». Ou seja, «derrotada a anterior maioria que, de forma tão arrogante e prepotente governou o País, torna-se agora fundamental informar, esclarecer, propor, mobilizar, exigir e lutar».
Ao apresentar as conclusões da cimeira, na conferência de imprensa, a coordenadora da Frente Comum sublinhou que a negociação colectiva tem que voltar à normalidade, distinguindo as reivindicações que devem ter resposta no Parlamento e as que passam por negociação com o futuro Governo. As prioridades, realçou Ana Avoila, são os aumentos salariais, a semana de 35 horas, o alargamento dos escalões do IRS e o descongelamento das evoluções nas carreiras.

Medidas imediatas

Na resolução da cimeira de sindicatos, são alinhadas em doze pontos as medidas imediatas que a Frente Comum considera «indispensáveis« e «pelas quais lutará»:
– reposição imediata do valor integral dos salários, subsídios e pensões roubados desde 2011, incluindo as prestações sociais, bem como o descongelamento das progressões;
– actualização dos salários e pensões, com um aumento de quatro por centro e assegurando um mínimo de 50 euros por trabalhador;
– descongelamento das posições remuneratórias e reposicionamento nos escalões da carreira correspondentes aos anos de serviço;
– revogação imediata da sobretaxa de IRS, alargamento dos escalões de IRS e aumento das deduções à colecta em despesas de saúde, educação e habitação, entre outras;
– revogação das normas gravosas da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas;
– revogação das normas que prevêem as 40 horas semanais (Lei n.º 68/2013) e dos normativos da Lei n.º 35/2014, para garantir as 35 horas semanais a todos os trabalhadores da Administração Pública;
– reposição do número de dias de férias previstos no Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas;
– fim do encerramento, reconfiguração e privatização dos serviços públicos;
– suspensão de todos os contratos de municipalização já assinados e fim deste processo, revogando o Decreto-Lei n.º 30/2015;
– vínculo público de nomeação, com os efeitos daí decorrentes, para todos os trabalhadores da Administração Pública, incluindo os que estão com contrato individual de trabalho nas EPE (entidades públicas empresariais);
– reintrodução dos quadros de pessoal (em vez dos «mapas») e sua actualização, face às reais necessidades dos serviços;
– integração dos trabalhadores em mobilidade especial (requalificação) nos quadros de pessoal.




Mais artigos de: Trabalhadores

Força à rejeição

Na reunião extraordinária da Comissão Executiva da CGTP-IN, ontem de manhã, em Lisboa, foi salientado que, mudada a maioria no Parlamento, é preciso mudar de política.

Unidade melhora salários

O SITE Sul valoriza o acordo alcançado na Acciona, para os trabalhadores colocados na Portucel, em Setúbal. A luta por melhores salários desenvolve-se noutras empresas e sectores.

No que deu a desregulação

O relatório anual sobre a actividade da Inspecção do Trabalho revela dados que «são apenas a ponta do icebergue», mas confirmam os graves efeitos das sucessivas alterações da legislação laboral, comentou a CGTP-IN.

Parem o ataque nos transportes

Os processos de privatização e subconcessão foram contestados, antes de 4 de Outubro, por partidos que agora estão em maioria no Parlamento, lembrou a Fectrans/CGTP-IN, ao anunciar acções de luta no sector.

«Apagar» as privatizações <br>do Metropolitano e Carris

Trabalhadores e reformados do Metro de Lisboa e da Carris entregaram, anteontem, no Parlamento, uma borracha para simbolizar a exigência de «apagar» o contrato de privatização daquelas empresas. Os participantes na iniciativa que arrancou da...

Estivadores decidem lutar

Perante a ruptura da negociação do contrato colectivo de trabalho, o Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores do Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal revelou no dia 23, sexta-feira, que nos próximos dias iria anunciar acções de luta. «Os...

De novo três anos

A partir de 8 de Novembro, a duração máxima dos contratos a prazo (termo certo) volta a ser de três anos, com o máximo de três renovações, porque termina a possibilidade de renovação extraordinária, em vigor desde 2012 (primeiro, com a Lei...

Estatuto e aumento

A partir de 1 de Novembro, os guardas-florestais do SEPNA/GNR voltam a ter a designação tradicional da sua carreira profissional, são reconhecidos como agentes de um órgãos de polícia criminal e ganham uma valorização salarial de 5,2 por cento, em média,...

Sessão em Arraiolos

Uma sessão evocativa dos 40 anos do início da Reforma Agrária teve lugar no sábado, dia 24, no pavilhão multiusos de Arraiolos. Promovida pela União dos Sindicatos do Distrito de Évora, a iniciativa contou com a presença de cerca de 200 obreiros da mais bela...

Hotelaria do Algarve

«Fruto da acção dos trabalhadores e da insistência do sindicato, nos locais de trabalho e na rua, a associação patronal AIHSA solicitou uma reunião para dar continuidade às negociações do contrato colectivo de trabalho», informou o Sindicato da...

Segurança no Trabalho requer acção

Ao assinalar a «Semana Europeia da Segurança e Saúde no Trabalho», a CGTP-IN reiterou a necessidade de decisões que contrariem «a degradação progressiva das condições de trabalho e os profundos e inaceitáveis retrocessos em matéria de...