Diferentes na forma e no conteúdo
Explicar os eixos centrais da política patriótica e de esquerda que o PCP propõe e os caminhos a trilhar para a sua concretização foram os objectivos do debate que se realizou domingo à tarde no Fórum, intitulado Política Patriótica e de Esquerda – Soluções para um Portugal com Futuro. Perante uma vasta e interessada audiência, os oradores que compunham a mesa (Jorge Cordeiro, Pedro Guerreiro, Agostinho Lopes, Paulo Sá e Alma Rivera) adiantaram aspectos de primordial importância para a compreensão do significado profundo da proposta política do Partido, que se integra na luta pelos seus objectivos supremos.
Da possibilidade de concretização da política patriótica e de esquerda falou Agostinho Lopes, do Comité Central, que a fez depender da luta dos trabalhadores e do povo, do alargamento da força e influência do PCP e da CDU, da mobilização dos recursos nacionais e da afirmação da soberania do País. Reafirmando a necessidade de romper com a política de direita e com as amarras externas, o membro do Comité Central demonstrou a existência de uma «base material sólida» capaz de sustentar as propostas do Partido. A renegociação da dívida e uma política fiscal mais justa são duas questões decisivas.
Pedro Guerreiro, do Secretariado, referiu-se à componente patriótica da proposta do PCP, realçando que, nas actuais condições, qualquer projecto de desenvolvimento justo e progressista requer o exercício da soberania nacional e a firme e corajosa rejeição de ingerências. O membro do Secretariado garantiu mesmo que a salvaguarda da soberania é «componente essencial da alternativa». Para Pedro Guerreiro, tal como o 25 de Abril foi um acto de afirmação patriótica, o processo contra-revolucionário iniciado em 1976 representa a capitulação ante interesses externos.
Ao deputado Paulo Sá, que uma vez mais encabeça a lista da CDU pelo Algarve, coube falar da componente de esquerda da alternativa que o PCP defende, reafirmando aqueles que são os seus eixos centrais. Considerando «manhosa» a pergunta «onde é que vão buscar o dinheiro para isso», o deputado comunista recordou que com a renegociação da dívida que o PCP propõe seria possível libertar, só em juros e comissões, 60 mil milhões de euros até 2020; com uma política fiscal que aliviasse os trabalhadores e o povo e taxasse efectivamente o grande capital, seriam libertados quase mais 10 mil milhões.
A dirigente da JCP Alma Rivera, candidata da CDU pelo círculo eleitoral de Lisboa, destacou as propostas do PCP para a juventude, que passam pelo combate à precariedade («no trabalho, na formação e na própria vida») e por uma efectiva aposta na educação pública.
Forma que é conteúdo
Projecto e valores – trabalho, honestidade e competência foi o lema do debate de sexta-feira, no Fórum, moderado por João Dias Coelho, da Comissão Política. As intervenções de abertura estiveram a cargo de Carla Cruz, Inês Zuber e Bernardino Soares (respectivamente deputadas na AR e PE e presidente da Câmara Municipal de Loures) e Margarida Botelho, da Comissão Política.
Se há exemplos de como a forma pode, em si mesma, ser também conteúdo, a forma que os comunistas e os seus aliados têm de estar na política é claramente um deles: como afirmou, no debate, Margarida Botelho, «trabalho, honestidade e competência» não é apenas um bom lema de campanha eleitoral; é uma realidade posta em prática por centenas de eleitos da CDU por todo o País, desde logo ao rejeitarem benefícios pelo exercício de cargos públicos. Para além de uma questão ética, este princípio garante que os eleitos «não perdem o pé» à realidade quotidiana da generalidade da população portuguesa.
Antes, já a deputada Carla Cruz tinha explicado a intervenção dos eleitos comunistas na Assembleia da República, principalmente a constante ligação aos problemas dos trabalhadores e das populações: todas as segundas-feiras, relatou, são passadas nas diversas regiões, em reuniões com associações, sindicatos e outras instituições; várias perguntas, requerimentos e propostas legislativas concretizam os compromissos assumidos nestes encontros.
Da mesma forma, Inês Zuber, deputada no Parlamento Europeu, realçou precisamente essa ligação com os problemas reais e concretos dos trabalhadores e do povo. Assim, e ao contrário dos deputados dos outros partidos, que vêm a Portugal «explicar» as vantagens do processo de integração capitalista europeu, os eleitos comunistas levam ao Parlamento Europeu os problemas e aspirações dos trabalhadores e do povo. Uma grande e reveladora diferença. O presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, desdobrou o lema da CDU – «Trabalho, Honestidade e Competência» – em exemplos concretos de como os eleitos do PCP e dos seus aliados não só têm as melhores propostas como são diferentes de todos os outros na forma como exercem o poder. Por tudo isto, realçou, «estamos em condições de governar o País».